Agir na política sem estar no poder torna-se um exercício apropriado aos faladores, gente que discursa, fala, fala, fala e nada faz além de falar. Mas, para estar no poder no Brasil precisa-se dos partidos e eles não estão disponíveis para todas as pessoas. Para filiar-se a qualquer um deles, o cidadão pode ir aos espaços na internet, preencher corretamente as fichas de filiação e deixar rolar. E para-se por aí, pois aos filiados não é dado opinar e participar das decisões, privilégio, exclusivamente, dos dirigentes que são escolhidos por eles próprios.
Esse problema seria algo menor se os partidos políticos fossem, pelo menos, agentes facilitadores da decisão que os eleitores são chamados a tomar no momento das eleições. Para isso, bastaria que, sob um mesmo partido, fossem abrigados, exclusivamente, os candidatos com propostas iguais ou pensamentos semelhantes sobre as funções que, por eleição, pretendem ocupar. Não é assim. Não por aqui. Nos partidos políticos brasileiros cabem mamíferos, ovíparos, cabras, peixes, cobras, bichos que têm pena, bichos que têm pelo e vez por outra até uns monstros que ninguém consegue definir. Por isso, ao eleitor não se dá outro caminho além da seleção dos candidatos pelo perfil pessoal, na maior parte das vezes falseado por um processo de marketing e comunicação capaz de vender gato por lebre e um idiota como gênio,
Inexiste ignorância do eleitor com relação aos fatos que descrevo. Afinal, todos sabemos que é desse modo que os partidos atuam nas campanhas eleitorais. Mesmo assim, temos a coragem imbecial de exigir dos eleitos a aprovação de reformas na estrutura jurídica do país, para sermos mais felizes. Enganamos-nos a nós mesmos, pois nenhuma reforma nos será, verdadeiramente, útil, sem uma mudança no sistema de representação política. E o povo pode exigir isso sem constrangimento ou pedir licença, pois os partidos políticos e a representação são sustentados com o fruto do trabalho do povo.
O modelo é cruel e desonesto, pois, como contribuinte, o cidadão paga as despesas dos partidos, mas se quiser apresentar-se a qualquer deles como candidato, precisará corresponder à lógica eleitoral dos seus dirigentes. As convenções partidárias são um engodo e o sistema de deliberação é autoritário, centralizador. O modelo é cruel, pois obriga os eleitores à escolha, no tempo das eleições, de candidatos que lhes são impostos pelos dirigentes partidários à luz dos interesses egoístas.
Por isso, temos ido às urnas para escolher o menos pior, pois aos melhores é negado o acesso à candidatura.