Troque-se o sinal da declaração que virá a seguir e, inclua-se parte do poema de Castro Alves, e teremos uma ideia perfeita de como anda o Brasil.
“Todo mundo que era contra a ditadura era comunista. Todos se tornaram suspeitos, subversivos em potencial. O comunista estava na fronteira, atrás da porta, na sombra, na igreja, na escola, no cinema, no teatro, na música, no Exército, o comunista vendia pipoca, estava disfarçado em balés, óperas, podia ser seu vizinho, podia estar debaixo da sua cama, poluir o reservatório de água, dopar os bebedouros. Os comunistas tomariam o poder. Até os não comunistas eram comunistas disfarçados, foram doutrinados, sofreram lavagem cerebral.” Adiante, o autor comenta o AI-5: “Usa a ameaça à democracia como argumento para endurecer o regime, uma aberração jurídica, incongruência em que todo regime autoritário se baseia (para defender a liberdade, precisamos acabar com ela)”. Esse é um dos depoimentos do Marcelo Rubens Paiva no livro “Ainda estou aqui”.
No país, atualmente, há gente com o adereço de agente subversivo contra a democracia, golpista, fascista e mentirosa, processada e condenada em nome da defesa da democracia. Neste contexto, vale tomar por empréstimo abusivo uma das passagens do poema Navio Negreiro de Castro Alves, para fazer referência à história do Brasil: “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura…se é verdade. Tanto horror perante os céus.”