Assisto a situação que passa o ex-presidente Jair Bolsonaro, que enfrenta acusações de contrabando de jóias e falsificação de um atestado de vacina. Fala-se até em enriquecimento. Nesse quadro, por determinação do Ministro Alexandre de Moraes, do STF, a Polícia Federal foi à casa do ex-presidente para conferir o atestado de vacina e saber se ele mentiu ao dizer que não foi vacinado. Lamentavelmente, esse movimento na direção de um ex-presidente não é algo singular nem está isolado no passado, mas transita por toda a História, constituindo-se numa triste cultura.
O imperador Pedro II foi apeado do poder e deportado. A atitude coube a um velho amigo dele, monarquista, Marechal Deodoro da Fonseca, também retirado do poder antes do tempo, pela Revolta da Armada. Floriano Peixoto, o vice, herdou o governo, a desordem econômica e rebeliões, sentindo-se obrigado a tornar-se ditador para sobreviver no governo. Depois dele, vieram os presidentes eleitos. Assim seguiu a História do Brasil até a eleição de Júlio Prestes, impedido de tomar posse por um movimento apelidado de revolução – Revolução de 30.
Seguimos com Getúlio até que ele, um ditador afastado do poder depois de muito tempo lá, retornou eleito pelo povo e deu um tiro no peito. Houve Café Filho, que adoeceu e entregou a Presidência ao sucessor legal, Presidente da Câmara dos Deputados, deputado Carlos Luz, que, em poucos dias, sofreu o primeiro impeachment da história republicana. Nereu Ramos assumiu até o momento da posse do presidente eleito, Juscelino Kubitschek.
Jânio chegou em seguida e renunciou. O vice-presidente João Goulart passou um enorme perrengue para assumir a presidência, conseguiu e foi expulso por um golpe liderado pelo Congresso Nacional, mas vencido pelos militares. Juscelino Kubitschek apoiou o golpe, um apelo popular. A popularidade dele cresceu a ponto de ser considerado pule de dez numa nova eleição para a Presidência da República. Era preciso pará-lo.
Cláudio Bojunga, na biografia que fez de Juscelino – a melhor que encontrei entre todas – relata a perseguição dos militares e da elite política da época a Juscelino. Num trecho, Bojunga conta: “Muitos anos mais tarde, o general João Baptista Figueiredo, que havia chefiado o SNI antes de se tornar presidente, faria ao seu ministro da Comunicação Social, Said Farah, referências elogiosas a Juscelino Kubitschek…mencionando ainda a relativa pobreza de JK. Said Farah perguntou-lhe, com certa perplexidade, como sabia disso. Figueiredo respondeu-lhe que ele próprio investigara a vida passada de Juscelino e nada de sério encontrou que desabonasse a sua honradez. Farah quis saber por que então Juscelino fora cassado. A resposta foi curta: “porque Costa e Silva queria”.
É suficiente por hoje.