14.11.2023.
Eita! Vejam só a notícia publicada na primeira página do jornal Estado de São Paulo, no domingo:
“Na elite da era espacial, a Índia, país das startups, sofre com falta de banheiros. Parte da população de 1,4 bilhão de pessoas no país das startups faz suas necessidades a céu aberto. O pouso na face oculta da Lua, realizado em agosto pela missão Chandrayaan-3, colocou a Índia na elite da corrida espacial e a inseriu num mercado que deve movimentar US$1 trilhão em 2040. Mas, no país de 1,4 bilhão de habitantes, que tem 90 mil startups e mais de 100 empresas unicórnio – aquelas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão antes de abrir capital em bolsas de valores -, grande parte das pessoas mora em favelas, não têm acesso a banheiros e faz suas necessidades a céu aberto, informa o enviado especial Felipe Frazão. Em 2014, o governo lançou um plano para erradicar a prática, mas ela não foi extinta. Nas cidades de Agra, Nova Délhi, Faridabad e Hyderabad, o Estadão viu fezes humanas em calçadas e testemunhou pessoas urinando na beira da estrada.”
Há, na Índia, de fato, 1 bilhão e 400 milhões de habitantes e 20 línguas diferentes. Novecentos milhões são eleitores e usam urnas eletrônicas com emissão de comprovante de voto. Um traço feito num dos dedos dos eleitores, com uma tinta que não se consegue tirar antes de 30 dias, impede que eles votem mais de uma vez. E tem mais, para o exercício da soberania popular: a Comissão Eleitoral garante a existência de urnas eletrônicas a uma distância de pelo menos 2 quilômetros de cada comunidade, obrigação que implica o uso de uma logística dificílima, que envolve camelos, jumentos e escaladores de montanhas, mas que mesmo assim é rigorosamente observada.
A democracia é, portanto, o regime vigente sustentado por um sistema parlamentarista bicameral. O povo escolhe pelo voto direto os membros das duas câmaras e parlamentares regionais, que juntos decidem quem preside o país. Na eleição de 2020 foi eleita uma mulher, Draupadi Murmu, a primeira oriunda de uma comunidade tribal.
Então, está certo o autor da matéria. A população local prefere ir à Lua a ter banheiros e dá aos governos a obrigação de construir banheiros.
Em 2014, diz a matéria, o governo instalou 100 milhões de banheiros para beneficiar 600 milhões de pessoas. Um banheiro para cada seis seres humanos. Tem-se, então, que para atender com banheiros os 157 milhões de habitantes, que cagam e urinam nas ruas e estradas, serão necessários pelo menos mais 26 milhões de banheiros. Ocorre que na Índia nascem, por ano, 23 milhões de pessoas, dado que exigirá do governo a construção de pelo menos 3.800.000 banheiros a cada ano. Na rotina dos gestores públicos brasileiros, mais de 3 milhões, quase 4, de oportunidades para inaugurações com corte de fitas.
O Partido dos Trabalhadores teria lá um campo fértil para atuação, sendo oposição ou sendo governo. Como oposição poderia estimular a criação do MSB, Movimento dos Sem Banheiros. Se governo, teria a chance de criar o “Meu Banheiro, Minha Vida” e uma campanha publicitária: “Cagar e mijar com dignidade”, slogan em cores vermelhas e exibido numa bandeira com o número 13 estampado no centro.
Deixo aqui a contribuição para o povo indiano.