Jackson. 26 de abril de 2024
Conta o velho costume que o melhor modo para atravessar uma boiada num rio onde há piranhas, é oferecer-lhes, num dos pontos distante do local da travessia, um boi vivo para que elas, ocupadas em devorá-lo, não prestem atenção ao resto da boiada. O compositor Almir Sater comparou o ato ao sacrifício de Cristo, por Ele ter entregue a vida pelos pecados da humanidade.
Longe de mim, comparar-me com Cristo, pois isso seria uma blasfêmia, uma heresia, mas posso dizer que me sinto como um “boi de piranha”, entregue à voracidade do fisco, que me devora para que os agentes públicos, bois de raça, atravessem a vida sem risco e com conforto.
Ao mesmo tempo em que me classifico, alerto vocês, minhas caras leitoras, meus pacientes leitores, que, se vocês forem bois de sacrifício como sou, fiquem atentos, pois exatamente agora, no Congresso Nacional, as piranhas afiam os dentes e colocam mais força nas mandíbulas, alimentadas pela regulamentação da reforma tributária.
Serei devorado. Sei disso. Sei por experiência, pois, ao longo da vida tenho visto que todas as vezes que os agentes do Estado, eleitos ou não eleitos, são chamados a opinar sobre tributos, eles, imediatamente, encontram meios, modos e justificativas, para arrancar mais dinheiro do meu bolso e pedaços maiores do meu corpo.
Haverá como evitar esse ciclo insano de sacrifícios? Imaginei que sim, quando escolhi pessoas para, por mim, decidirem o que fazer com os impostos, mas não é que, tão logo chegam à margem do Rio, os meus representantes, apressam-se a compor o rebanho de bois de raças, aquele que atravessa os rios sem risco de perder a vida.
O que fazer? Confesso que não sei mais.