Era sábado, o sol à pino, gente nas praias, mas eu estava ocupado com a preparação de um discurso sobre Educação solicitado por um cliente. O pedido foi: “Faça algo sobre Educação, para eu falar na tribuna na terça-feira, dia do professor.”
Antes de iniciar, fiz as consultas de rotina aos livros e pesquisas sobre o tema. Passei batido por uma entrevista que o ex-Secretário de Segurança do Estado do Rio, José Mariano Beltrame, deu à Conjuntura Econômica. Fiquei com uma frase na cabeça martelando na cabeça, incômodo que me fez retomar a leitura com mais atenção. Estávamos no tempo das UPPs |(Unidades de Polícia Pacificadora), panaceia para as dores causadas pela violência crônica. Disse Beltrame: “A UPP é uma anestesia para que se proceda a uma grande cirurgia. A UPP é uma oportunidade para que aconteça uma série de outras coisas que acontecem em outros lugares da cidade. (…) você pode ter o melhor serviço de assistência de tuberculose embaixo da Rocinha – onde temos os maiores índices da doença no Brasil – aquele hospital ali não vai resolver o problema de tuberculose. O que vai resolver é abrir a Rocinha, arejar a Rocinha, é fazer o ar correr e o sol chegar”. Adiante, no encerramento da entrevista, Beltrame afirmou: “a sociedade se afastou da polícia e a polícia se afastou da sociedade…”.
Panaceia, filha de Asclépio, falhou, pois sua irmã, Higia, falhou antes dela e tempos depois a imprensa publicou uma informação de um dos moradores da favela: “O bandido nos ameaça de morte. O policial nos dá tapa na cara. Não há mais respeito. É a volta da lei do silêncio; do sim senhor e do não senhor. Se você reclama de qualquer coisa, acaba apanhando, levando tiro. Pode até morrer. Há cinco anos, vivíamos num paraíso: o policial passava dando bom dia, boa tarde e boa noite. Agora aponta o fuzil e te xinga. Perdeu a educação”.
O discurso do meu cliente foi elogiadíssimo. Mas, de nada adiantou o alerta contido nele: “enquanto essa Casa insistir em oferecer soluções para as consequências da ausência da educação, no lugar de apresentar algo que dissolva a causa do desastre, a decadência na qualidade e nos efeitos do ensino permanecerá.”