Li a notícia na Folha de São Paulo: “O número de mortos pelo terremoto em Mianmar subiu para 1,7 mil, segundo informações divulgadas neste domingo (30) pelo governo militar do país. Os feridos passam de 3,4 mil e há mais de 300 desaparecidos…A devastação aumentou ainda mais o sofrimento em Mianmar, país mergulhado no caos devido a uma guerra civil que surgiu após um levante nacional contra o golpe militar de 2021, que derrubou o governo eleito da vencedora do Prèmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi”. A primeira vez que a notícia surgiu na Folha, logo cedo, o repórter informou que a população cavava os escombros com as mãos, por falta dos equipamentos adequados.
Coincidência! Passei o sábado estudando discursos feitos por mulheres ativistas a favor da democracia e entre eles, o proferido por Aung San Suu Kyi, no dia 21 de junho de 2012, ao parlamento inglês no Westminster Hall, em Londres. Ela estava numa caminhada pelo mundo, como membro eleito do parlamento do seu país e contava com 67 anos de idade. Ela fará 80 em junho e está em prisão domiciliar. Os generais em Mianmar não aceitam a democracia. Lutam contra ela há anos e, no momento, vencem o povo.
Destaco aqui alguns trechos do discurso de Aung San Suu Kyi, escolhido entre os melhores discursos políticos do mundo.
“Acabei de vir de Downing Street. Foi minha primeira visita lá, mas para mim foi uma cena familiar – não só por causa das imagens de televisão como também por minha própria história familiar. Como alguns de vocês talvez saibam, a fotografia mais famosa do meu pai, Aung San, tirada pouco antes do assassinato dele em 1947, é uma em que ele se encontra em Downing Street com Clement Atlee e outros, com quem vinha discutindo a transição da Birmânia rumo à independência…
Eu gostaria de ver meu país aprender com os exemplos consolidados de democracias parlamentares em outros lugares, para que, com o tempo, possamos aprofundar nossos padrões democráticos…
No começo deste ano, eu mesma participei das minhas primeiras eleições como candidata. Até hoje, no entanto, eu ainda não tive a chance de votar livremente em uma eleição. Em 1990, eu pude dar meu voto antecipado enquanto estava sob prisão domiciliar. Mas fui impedida de concorrer como candidata pelo meu partido, a Liga Nacional pela Democracia. Fui desqualificada com a justificativa de que tinha recebido ajuda de estrangeiros. Com isso, eles se referiam às transmissões da BBC, que as autoridades consideravam ser tendenciosas em meu favor. O que mais me impressionou, antes das eleições parciais deste ano, foi a rapidez com que as pessoas nos distritos eleitorais de toda a Birmânia compreenderam a importância de participar do processo político. Eles entenderam em primeira mão que o direito de votar não era algo concedido a todos. Entenderam que precisavam aproveitar quando a oportunidade se apresentava, porque entendiam o que significava ter essa oportunidade negada…
A paixão do eleitorado foi uma paixão nascida da fome de algo que durante muito tempo lhes fora negado..”
Para justificar as perseguições a Aung San Suu Kyi inventa-se de tudo em Mianmar contra ela. E lá está ela, novamente, em prisão domiciliar para não derrotar os verdugos fardados Ela lá e Corina na Venezuela. E outras tantas mulheres pelo mundo perseguidas por lutarem a favor da liberdade.