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RUY E O ÓDIO DELE POR BOLSONARO

Ruy Castro não quer que Jair Bolsonaro morra; quer vê-lo sofrer. Ruy quer vingança. Ruy quer tortura. Quem sabe, Ruy deseja que Jair Bolsonaro sinta um pouco as dores causadas pelo Brilhante Ustra, ídolo de toda a família Bolsonaro. É a conclusão fácil que se tem do artigo publicado por Ruy Castro na Folha de São Paulo, na edição de hoje, 25 de abril de 2005. 

Pode ser, contudo, que eu esteja exagerando ou errando na interpretação do artigo. Então, eu o reproduzo para que você, que me lê, se não conhece o texto do Ruy, julgue por você mesmo. 

Antes, apresento-lhe Ruy Castro. Não pelo fato de ele ser, de você, desconhecido. Isso é impossível. Eu o apresento pela oportunidade de opinar sobre a biografia dele. Ruy Castro é um bom jornalista. Não dos melhores. É biógrafo e nessa arte se sai melhor e para provar estão aí, à venda, o Anjo Pornográfico, sobre Nelson Rodrigues; a Estrela Solitária, sobre Garrincha e “O Ouvidor do Brasil”, que bastante gente toma como biografia e é, na verdade, uma coletânea de textos sobre Tom Jobim, nos momentos em que Tom “está longe do piano”, como define a obra o próprio Ruy. Há também o “Vermelho e o Negro”, que o bom publicitário Ruy Castro, criou para escrever sobre o Flamengo aproveitando-se da obra magnífica do grande Stendhal. 

Agora sim, eis o “Longa vida a Bolsonaro” de Ruy Castro: 

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NARCISO, FILHO DE FRED

08 de abril de 2025

O texto a seguir foi-me enviado por um dos meus irmãos, Jair Vasconcelos Filho. Somos dez ao todo. Narciso, um herói do território de Téspías, personagem da mitologia grega. Jair, compara-o ao Donald Trump, filho de Fred. O artigo está muito bom. 

Narciso era um jovem de beleza extraordinária, filho do deus Cefiso e da ninfa Liríope. Desde muito novo, todos que o viam se apaixonaram por ele, mas Narciso era arrogante e indiferente aos sentimentos alheios. Recusava o amor de todos.

A deusa Nêmesis (deusa da vingança) faz com que Narciso se apaixone pela própria imagem refletida na água de um lago. Incapaz de se afastar daquilo que tanto ama, ele definha contemplando o próprio reflexo, até morrer.

Dorian Gray, por sua vez, resolve o problema de Narciso com um pacto silencioso: ele se separa do reflexo. Sua beleza vive intocada, enquanto o retrato apodrece em segredo. Dorian dança entre salões e escândalos — sempre encantador, sempre jovem —, mas a alma, escondida na tela, grita a cada noite. Seu castigo não é a morte física, mas a divisão interior: o corpo no espelho e a alma no porão. O fim é inevitável: ao destruir o retrato, destrói a si mesmo.

Trump não ama o reflexo como Narciso, nem teme a verdade como Dorian Gray. Ele se tornou o próprio espelho. Exige do mundo que o reflita como ele se enxerga: infalível, grandioso, belo, poderoso. Seu narcisismo não é o da introspecção, mas o da projeção: se há dissonância entre ele e a imagem pública, não é ele quem deve mudar, é o mundo que está errado. Ao contrário de Dorian, Trump expõe seu retrato em outdoors, doura os espelhos e transforma o grotesco em estética.

A imagem de Trump funde-se com a imagem da América (“Make America Great Again”); o narcisismo de um líder pode se tornar o espelho de uma nação — mas o espelho sempre quebra.

Ao final da grande aventura trumpista, a América, certamente mais fraca, tentará apunhalar o feio retrato que lhe caberá diante do mundo. Mas, ao apunhalar a tela, estará, na verdade, apunhalando não só sua imagem, mas seus valores, suas crenças e sua reputação.

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REDEMOCRATIZAÇÃO FAKE

O ex-presidente José Sarney recebeu as homenagens do Congresso Nacional como artífice da redemocratização do Brasil, pois alguém, nesse país de desinformados, entendeu que a democracia voltou a exatos quarenta anos, com a posse dele na Presidência da República. Que coisa! Vamos aos fatos, por pontos:

  1. O melhor desempenho de José Sarney na história do Brasil se deu como apoiador dos generais ditadores. Quando o barco da ditadura começou a naufragar, ele pulou fora e só aceitou participar do processo de devolução do poder aos civis tendo a honrada posição de vice-presidente. 
  2. O presidente eleito, Tancredo Neves, não tomou posse por ter morrido e a Constituição em vigor exigia que o presidente e o vice fossem eleitos e empossados no mesmo momento. Ou seja, sem eleição do presidente não haveria eleição do vice e o mesmo se dava com a posse. Sem a posse do presidente, o vice não assumiria. Então, Sarney assumiu a presidência sem poder. Neste tempo dedicado ao golpe como tema, eis aí a representação de mais um na história do Brasil. 
  3. O compromisso de Tancredo Neves com o povo brasileiro, na disputa no Colégio Eleitoral, foi de exercer um mandato de quatro anos para, em seguida, convocar eleições diretas. Sarney desfez o compromisso de Tancredo com o povo e conseguiu que o Congresso lhe desse cinco anos de mandato. Quem queira conhecer os argumentos usados pelo Sarney para conseguir os cinco anos, vá ao Google. 
  4. Sarney, na posse, diante do Congresso Nacional, jurou cumprir fielmente uma Constituição, que, com o apoio dele, deixou de existir no meio do mandato. 
  5. Redemocratização? Vários empresários foram presos por não cumprirem um tabelamento de preços imposto pelo Sarney e depois dele, Fernando Collor congelou os depósitos bancários de todos os brasileiros. 

Então, essa história de 40 anos de redemocratização a contar da posse do Sarney na Presidência da República, é fake. Totalmente fake. 

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JAIR BOLSONARO EM DAVOS

Jair Bolsonaro conversou com a CNN na sede do PL, em Brasília. Uma conversa com 41 minutos de duração. Quase no mesmo momento, Donald Trump discursava em Davos. A CNN transmitiu o discurso com tradução simultânea. A esquerda está cheia de interrogações, tanto sobre as propostas do Presidente dos Estados Unidos, quanto com relação ao futuro de Jair Bolsonaro. Dele obtivemos as seguintes declarações, para mim, relevantes: 

  1. Se a eleição de 2026, para a Presidência da República não contar com ele entre os candidatos, a leitura aproximará o Brasil da Venezuela e da Nicarágua, dois países onde as melhores lideranças da oposição ficaram fora da disputa por imposição dos ditadores governantes. Não há como ler a situação de modo diferente, pois a inelegibilidade de Jair Bolsonaro está sustentada em argumentos legais frágeis. 
  2. Jair Bolsonaro só aceita a esposa e os dois filhos, Flávio e Eduardo Bolsonaro  como candidatos possíveis para substituí-lo. Os demais nomes lembrados pela entrevistadora não agradam Jair Bolsonaro. 
  3. O compromisso dos candidatos às presidências da Câmara e do Senado com Jair Bolsonaro é a aprovação do projeto de lei de anistia. 
  4. Ele será preso? A resposta dele faz sentido: qualquer um pode ser preso num país onde a decisão de prender e soltar deixou de ser uma resolução jurídica para ser política. 
  5. Sobre Trump, Jair Bolsonaro identificou problemas no relacionamento dele com o Brasil, uma vez que o povo americano não olha com bons olhos quem agride os direitos humanos. A observação nasceu da pergunta da entrevistadora sobre a pressão de parlamentares brasileiros para impedir a entrada de Alexandre de Moraes nos Estados Unidos. 

O fato está cada vez mais evidente: Jair Bolsonaro consegue a imagem de vítima, o que dará a ele bastante vantagem na política brasileira. Percebo que a sorte voltou a sorrir para Jair Bolsonaro. Como já comentei aqui, a ausência dele na posse do Trump deu a ele mais vantagens do que desvantagens, a ponto de ter sido melhor para ele e Michelle o fato dele não ter comparecido. Na entrevista à CNN, ele deixou isso bem claro com relação à imagem da Michelle. 

Política se faz com estratégia e parece que Bolsonaro não esqueceu como usá-la. 

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“ISTO DE POLÍTICA, MEU CARO…”

Hoje, 08 de janeiro de 2025, completam-se dois anos da ocorrência da invasão das sedes dos Três Poderes da República pela multidão de eleitores de Jair Bolsonaro, estimulada pelas suspeitas de fraudes na eleição; A turma queria uma intervenção do Exército no processo político. 

Jair Bolsonaro estava nos Estados Unidos. Em silêncio, ele aceitava os convites de brasileiros para fotos, que chegavam, imediatamente, nas redes. Para lá ele seguiu ainda como Presidente da República e de lá assistiu a baderna e as consequências dela. Ele não disse uma palavra.

Em 1964, o povo brasileiro foi às ruas impulsionado pelo mesmo desejo: uma intervenção militar no processo político. O Exército atendeu ao chamado e implantou no Brasil uma ditadura, que suspendeu as eleições diretas para Presidente da República, para governadores e prefeitos de várias cidades. Manteve o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal em funcionamento, mas humilhados. Completamente subordinados ao poder da farda. Mandatos foram cassados, Ministros do Supremo aposentados compulsoriamente e o número deles ampliado para permitir que os ditadores tivessem liberdade para agir contra os opositores. 

O povo levou quase uma geração para reconquistar suas prerrogativas, com um trabalho árduo, com dores, “suor e lágrimas”.  No Congresso e na imprensa algumas vozes se levantaram contra a ditadura, mas ficaram pelo caminho. Outras vozes, no entanto, souberam dosar o discurso e as atitudes, para deixar que a ditadura caísse pela força do próprio peso.  Rubem Medina estava nesse grupo. Ele soube suportar as pancadas pela decisão de não radicalizar. Esteve preso na entrada do AI-5 e, naquele momento, entendeu que só com paciência e estratégia a ditadura seria vencida. 

Rubem Medina participou do processo de reconquista da democracia, não como mero expectador, mas como um agente político ativo. Rubem Medina agiu com talento e esse talento está exposto por ele e contado por mim, no livro, “Isso de política, meu caro…”.

Por aqui, neste momento, a democracia está em risco sim e sempre esteve no mundo todo, todo o tempo, porque ela é uma das coisas que, quando se tem, não se valoriza. É algo como a vida que, enquanto saudável e bela, não é percebida com o exato valor que tem. Por aqui, a democracia precisa ser aprimorada até o ponto em que não se corra mais o risco de perdê-la. Ocorre que não criaram sucessores de lideranças com o perfil de Rubem Medina, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Mário Covas.

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AH, SE EU PUDESSE! 

Jackson Vasconcelos. Rio, 04 de novembro de 2024

Se eu pudesse; se eu tivesse como, pararia de pagar impostos imediatamente após a reunião do Presidente da República com os governadores, fato ocorrido na semana passada. Naquele momento, o Estado brasileiro declarou-se impotente para cumprir a única atividade para a qual foi criado: garantir a minha segurança. Hobbes sobrou em sabedoria quando me garantiu que essa deveria ser a única função do Leviatã, quando ele foi criado. Fio-me em Hobbes, não só pelas credenciais intelectuais dele, mas porque faz todo o sentido quando ouço dele, que o Estado surgiu do medo do império do poder do mais forte. Então, todos cedemos poder para um ente – os agentes do Estado – para que eles, em nosso lugar usem a força para garantir a nossa segurança.  

A reunião dos governadores com o Presidente da República e com um ministro do Supremo Tribunal Federal, dois organismos do Estado que, no presente, se complementam, foi patética. O Ministro da Segurança Pública e Justiça apresentou uma proposta de Emenda Constitucional, para uma Constituição que tem mais remendos do que texto original. A proposta do ministro é simples: a União quer tirar poder dos governadores, que reclamam mais poderes para si mesmos. E sabe-se à larga que toda vez que um agente do Estados pede mais poder, ele quer, na verdade, mais dinheiro. 

Santa Edwiges! Eu entrego ao Estado Brasileiro quase metade de tudo o que ganho com o meu trabalho e abro mão do direito de usar a força em minha defesa para ter segurança e sou submetido a uma sessão em que os agentes do Estado dizem pra mim, que se eu não entregar-lhes mais dinheiro e mais poder, não terei segurança. Fazem isso, sem me explicarem o que andam a fazer com o dinheiro que já recebem e com o poder que me tomam. 

O que me resta fazer? Exercer com mais diligência e inteligência o poder que me resta: o de substituir os agentes do Estado por outros que, sendo meus iguais, compreendam que não dá mais para seguir como estamos indo. Que tal? 

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OS BACANAS E AS FAVELAS

Jackson Vasconcelos, 21 de outubro de 2024

Vejam só! Meio & Mensagem, sob o título “Potencial (Ainda) Inexplorado)”dá notícias da pujança econômica das favelas brasileiras, trabalho feito com base numa pesquisa (tracking) da organização “Nós – Novo Outdoor Social”. A matéria está assinada por Fernando Murad, que prometeu novos capítulos. 

Os números apresentados pela matéria, de fato, indicam um “conglomerado” econômico pujante. O Brasil possui mais de 10 mil favelas, a maioria no Sudeste. Nelas há 6,5 milhões de residências ocupadas por 17 milhões de pessoas e 260 mil empresas com CNPJ. Gente que consome 167 bilhões de reais. A matéria não dá o período. Mas, certamente, é um valor anual. 

Claro que essas são boas notícias sobre um tema sempre apresentado de forma negativa para a população, com o estigma de marginalidade e violência. O trabalho do “Nós – Novo Outdoor Social” é um esforço que se soma a outros tantos de pessoas que moram nas favelas e gritam para o mundo em volta: “estamos vivos, estudando, trabalhando, dando empregos e produzindo. Amamos viver”. 

O Meio & Mensagem avisou que a matéria é a primeira de uma série sobre a economia nas favelas. Não está dito, mas é possível que a iniciativa tenha o G-20 como objetivo. O encontro acontecerá no Rio em novembro e dias antes abrirá espaço para o que chamam de G20 Social, algo que o Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, com o estilo bem do Partido dos Trabalhadores, identificou como a oportunidade para o povo dar o seu recado para os “20 bacanas de paletó e gravata ou 20 mulheres bem vestidas, que tomam decisões para o mundo todo”. 

Meu primeiro contato intelectual com as favelas se deu quando, numa visita à Biblioteca Nacional, em 1980, encontrei uma pesquisa publicada no Estadão, em abril de 1960, mês da inauguração de Brasília, com o título “Aspectos Humanos da Favela Carioca”. Obtive uma cópia, estimulado pelo tema e curioso sobre o motivo de um trabalho com mais de mil páginas ter sido financiado e divulgado por um jornal de São Paulo, referindo-se às favelas cariocas e ter sido coordenado por um padre francês, o economista Louis Joseph Lebret. Li e estudei todo o trabalho. 

Existiam no Rio de Janeiro, na época, 16 favelas, Jacarezinho, Morro de São Carlos, Favela do Esqueleto, Barreira do Vasco, Favela Vila do Vintém, Parada de Lucas, Vila Proletária da Penha. Cordovil, Morro do Telégrafo, Morro do Bonsucesso, Morro da Providência, Favela do Escondidinho, Praia do Pinto. Rocinha, Parque Proletário da Gávea e Cantagalo. Hoje são quase 800. O Censo de 2010 do IBGE identificou 746. 

Cinquenta anos após a publicação da pesquisa, um grupo de professores intelectuais organizou um “colóquio”, para reavivar a pesquisa. Isso em 2010, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Aconteceu em maio. Eu passei por lá. Na época, eu andava envolvido com a campanha do Peter Siemsen para a Presidência do Fluminense e isso prejudicou a minha vontade de assistir todas as palestras e apresentações. O evento ocorreu durante três dias. 

Contudo, anos depois, fuçando o tema na Amazon, encontrei o livro “Favelas Cariocas ontem e hoje”, um compêndio sobre o encontro. O livro ofereceu um CD com a pesquisa de 1960 completa. O CD é algo impossível de usar hoje por falta de computadores que permitam. Eita evolução rápida. O livro é de 2012, tem 516 páginas. Nele, Licia do Prado Valladares, pioneira no estudo sobre as favelas cariocas, autoridade no tema, respondeu à minha dúvida sobre o fato de o Estadão ter financiado e divulgado a pesquisa em abril de 1960. 

Escreveu ela: 

“Convém agora explicar o paradoxo do financiamento de uma pesquisa sobre o Rio de Janeiro por um jornal de São Paulo. Discutir essa questão, aparentemente sem importância, vai nos ajudar a esclarecer os propósitos e o contexto político em que a pesquisa foi realizada. 

Em primeiro lugar, voltemos ao contexto político geral. Na segunda metade dos anos 1950, a construção da nova capital, Brasília, mobilizou todos os setores da economia brasileira, todos os grupos e partidos políticos, a imprensa e os meios de comunicação. Juscelino Kubistchek, defensor das propostas desenvolvimentistas, era atacado pela UDN, partido das elites conservadoras, e pelo jornal O Estado de São Paulo. Este órgão de imprensa buscava desestabilizar Juscelino publicamente, atacando em especial a construção da nova capital, considerada desastrosa do ponto de vista econômico. Os editoriais e os artigos defendiam a ideia de que seria preferível investir os milhões lutando contra a pobreza no Rio de Janeiro. De fato, a pobreza não parava de crescer, ameaçando cada dia mais os bairros ricos da capital, e há bastante tempo as favelas constituíam um importante tema do debate político. A realização de um grande estudo científico sobre as favelas seria, portanto, capaz de fornecer ao jornal Estado de São Paulo argumentos sólidos contra a política de descentralização do poder federal.” Em resumo: “Senhor Presidente, pare de gastar com a construção de Brasília e coloque dinheiro para acabar com a miséria no Rio de Janeiro”. 

Para não tornar esse texto em um relato cansativo, encerro aqui, aproveitando o que está na abertura – as notícias sobre a economia pujante das favelas brasileiras – para sugerir a leitura do livro que me serviu de base para nossa conversa e de outro, esse da Lícia Valladares, “A invenção da favela. Do mito de origem a favela.com”  que aborda os desafios para se compreender uma favela globalizada e conectada, composta de uma geração nova, que Lícia chama de “universitários da favela”.  A obra da Lícia fala de bem perto com a matéria do Meio & Mensagem. 

Pois bem, gente. Apesar de tudo o que fazem contra às pessoas que residem nas favelas e comunidades, lá tem gente que luta todos os dias para produzir e viver melhor. Se os governos entendessem que a felicidade completa está numa medida simples, seria tudo mais fácil. Basta que tirem as armas de lá. 

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WASHINGTON CORREU PARA A PUBLICIDADE CAMINHAR EM PAZ

Gabriel Medeiros, 14 de outubro de 2024.

O maior de todos se foi.
O cara que pavimentou um terreno descampado para o Nizan caminhar em paz. Pavimentou para os publicitários dos anos 80, 90, 2000 e os formandos de 2024, 25, 30, 35 caminharem em paz. Washington estava 30 anos na frente e vai continuar.

Assim como Nelson Piquet inventou o pit stop para o fórmula 1, o Washington inventou a criatividade simples para a publicidade.

Forno que faz comida.
Carro que te leva de um ponto ao outro.
Esponja de aço que cumpre o que promete. Mas sempre com inteligência e humor afinados.

Mil anos luz à frente dessa publicidade chatinha que te obriga a ter afinidade sentimental com uma máquina de lavar.
O storytelling (do jeito que é usado hoje) estragou muita ideia boa por aí.

Washington é hors concurs.

A publicidade mundial te agradece. Obrigado por tudo.

GABRIEL MEDEIROS

Publicitário, estrategista de marketing, ex-diretor de comunicação do Governo do Rio de Janeiro, e sócio da agência Bartô publicidade, especializada em conteúdo e digital.

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DEMOCRACIA SEM POVO

Jackson. 5 de outubro de 2024

Há quem queira uma nova Constituição por acreditar que desse modo impedirá decisões dos ministros do STF julgadas por muitos como inconstitucionais. Há quem defenda uma nova Carta por outros motivos. Se satisfeita a vontade, teremos a oitava Constituição. A primeira foi feita há 200 anos, em 1824 e a última, ainda em vigor, está com apenas 36 anos de idade. 

Do que sei, essa última foi a única a contar com a participação do povo desde a escolha dos constituintes por eleição direta. O povo esteve presente nos corredores e galerias do Congresso Nacional durante todo o tempo da elaboração da Carta. Pessoas de todos os lugares do Brasil chegaram a Brasília. Gente de todas as etnias, religiões, sexo, escolaridade, padrão de vida. Pessoas com deficiência. Pessoas com emprego e pessoas sem emprego. Quem não conseguiu ir a Brasília participou de fóruns, debates e conversas com os parlamentares e jornalistas. 

A elite acomodou-se. Depois, resolveu adaptar o documento aos seus interesses e hoje a Carta já tem mais de 200 emendas promulgadas e sabe-se que há um número maior ainda de propostas nos escaninhos do Congresso Nacional aguardando deliberação. 

Insatisfeita, a elite faz e refaz leis; faz, refaz e emenda constituições;  depõe e coloca presidentes, instala ditadura e até muda regimes, como aconteceu em 1889, quando proclamou a República com o intuito de livrar-se do risco de ter um terceiro reinado com Isabel, autora da Lei Áurea, decisão contrária à vontade da elite brasileira. 

Encontrei no livro “Campos Sales. Da Propaganda à Presidência” o relato sobre todo o movimento que levou o Brasil da Monarquia à República: 

“Aumentavam-lhe a probabilidade de uma próxima vitória definitiva…” pela instauração da República…”O Imperador tinha-se descuidado negligentemente de preparar o espírito da princesa Isabel, dando-lhe uma educação cívica mais compatível com as altas funções de imperante, que o direito de sucessão lhe havia destinado…” 

Em outra passagem, relata Campos Sales: 

“O Sr. Saraiva, na sua conferência de Petrópolis, adiantara ao Imperador este parecer: O que Vossa Majestade deve fazer ao findar este reinado é entregar à nação a coroa que ela deu a V.M. em 1831.” 

  • Mas, minha filha? 
  • A princesa é muito religiosa, segundo se diz, e deve resignar-se.” 

Sérgio Buarque de Holanda numa das entrevistas que concedeu à revista VEJA, publicada nas Páginas Amarelas no dia 28 de janeiro de 1976, com o título “A DEMOCRACIA É DIFÍCIL”, afirmou: “No Brasil sempre foi uma camada miúda e muito exígua que decidiu. O povo sempre está inteiramente fora disso. As lutas, as mudanças são executadas por essa elite e em benefício dela, é óbvio. A grande massa navega adormecida, num estado letárgico.(…). Até agora, todas as revoluções dentro da história do Brasil foram de elites, civis ou militares, mas sempre elites…”

Vilfredo Pareto definiu a elite na obra Trattato di Sociologia generale, publicada em 1916: “A teoria da elite ou classe eleita foi elaborada por Vilfredo Pareto e consiste na tese de que uma pequena maioria de pessoas é a que conta em todo ramo ou campo de atividade e que, mesmo em política, é uma tal minoria que decide sobre os problemas do governo. Essa teoria foi um dos pontos fundamentais da doutrina política do fascismo e do nazismo” (Dicionário de Filosofia. N. Abbagnano). 

Se queremos uma nova Constituição para o Brasil, que tal tentarmos viver uma segunda vez a experiência de 1988, trazendo o povo para a conversa? Nem que seja só para ela dizer se aceita as mudanças que a elite tem feito no tratado combinado em 05 de outubro de 1988.

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ISONOMIA? NÃO. HIPOCRISIA, SIM.

Jackson. 24 de setembro de 2024

O motivo mais relevante em defesa da existência de uma Justiça Eleitoral é a garantia de que os candidatos concorrem em igualdade de condições, situação definida pela lei eleitoral como isonomia.

Nunca houve isonomia nas disputas por mandatos eletivos. Nunca mesmo, até pelo fato de que os candidatos têm habilidades pessoais e são diferentes entre si. Uns sabem lidar melhor com as campanhas do que outros. No entanto, a lei e a Justiça Eleitoral autorizam e chegam até a determinar o desequilíbrio nas condições oferecidas a uns candidatos em detrimento de outros e seguem adiante para vestir com as vestes da hipocrisia o que defendem como isonomia.

Há inúmeros exemplos e de bastante tempo. Existe, por exemplo, o desequilíbrio na disputa em favor daqueles que exercem funções públicas, gente que conta com assessores, estruturas, influência políticas e outras vantagens.

O exemplo mais gritante de desequilíbrio está na distribuição do Fundo Eleitoral e do tempo de TV e rádio, instrumentos pagos com o dinheiro de todos os contribuintes. Os recursos são entregues aos partidos com base no número de mandatos que conquistam. Ou seja, aqui já se tem a primeira distorção. A situação piora pelo fato de os partidos não terem democracia interna, o que os transforma em feudos de seus presidentes. Por isso, numa mesma campanha, há candidatos com milhões nas contas de campanha e com tempos elásticos de veiculação de suas campanhas na TV e no rádio, disputando com candidatos que recebem zero ou migalhas dos mesmos instrumentos.

Por isso, o poder não se renova e se tem o caso de filhos e filhas dos donos dos partidos que, na falta de disposição de lutar pela própria sobrevivência, buscam os salários e vantagens que os cargos públicos lhes dão.

O povo poderia romper isso? Poderia, mas como ele terá as informações essenciais para escolher os candidatos que não utilizam os privilégios das máquinas pública e partidária se as campanhas os tornam invisíveis aos olhos dos eleitores?