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RIO, O ELEITOR É O PROBLEMA.

O Rio, de Janeiro a Janeiro. 

Atribui-se o esvaziamento econômico e político do Rio de Janeiro, estado e cidade, à transferência da Capital da República para Brasília e ao desaparecimento do estado da Guanabara, pela fusão da cidade com o estado. A rebeldia de quem entende o processo desse modo fez nascer o enredo de decisões tomadas à revelia dos representantes da cidade, fato que a história não confirma. 

Sabe-se que a transferência da Capital foi inserida na Constituição Federal por proposta de um senador fluminense, Quintino Bocaiúva e lá ficou diante dos olhos dos parlamentares que representavam o povo da Cidade do Rio de Janeiro, até que o presidente Juscelino Kubitschek transformou-a em realidade. Poucos se insurgiram. 

Dizem que o Rio não foi recompensado ou indenizado por perder a qualidade de Capital da República. Não é verdade, uma vez que, transformado numa cidade-estado, passou a arrecadar os impostos de competência de duas unidades federativas. O povo carioca, antes governado por governadores indicados pelo Presidente da República, ganhou autonomia para elegê-los. Elegeu Carlos Lacerda e seu opositor, Negrão de Lima. Carlos Lacerda deixou uma conta alta para Negrão pagar, nela inseridos quatro meses de salários atrasado e obras por terminar. O Túnel Rebouças foi inaugurado por Lacerda, às pressas, ainda não asfaltado, para que representasse um legado no currículo de um governador que gostaria de ser presidente. Lacerda criou empresas estatais para confrontar o governo federal, a quem se opunha.  

Depois, em 1974, a Guanabara desapareceu e a Cidade do Rio de Janeiro foi incorporada ao estado para ser a sua capital. Os críticos insistem até hoje, que, de igual modo, a decisão deu prejuízos à Cidade sem recompensa. E, novamente, tentam emplacar a imagem de uma decisão à revelia dos políticos locais. Contudo, a fusão foi proposta por um deputado federal eleito pela Guanabara, Célio Borja, ao Presidente da República, Ernesto Geisel. Célio, certamente, quis ser governador da nova unidade federativa. Não conseguiu, porque o Presidente Geisel nomeou o Almirante Faria Lima para tirá-lo da Presidência da Petrobras. 

A Cidade do Rio de Janeiro, ao ser incorporada como capital ao Estado do Rio, passou a compor um território bem mais vasto e viu ampliado o litoral, hoje o terceiro maior do Brasil, com potencial para a indústria da pesca, esportes aquáticos e turismo. 

O Rio ganhou o caráter de capital de um estado onde estavam a Siderúrgica Nacional, a Companhia Nacional de Álcalis, a Refinaria da Petrobrás e outros patrimônios com enorme potencial econômico. Além disso, poucos meses antes da fusão, o governo federal entregou ao estado e à cidade, a ponte Rio-Niterói, que deu impulso à indústria da construção civil na Cidade do Rio de Janeiro, elemento multiplicador exponencial de trabalho, renda e impostos, não só em razão da construção da ponte, mas pelo canteiro de obras que se instalou em Niterói para novas moradias e empresas. 

Então, as lamentações pela perda da condição de Capital da República e fusão da Cidade do Rio de Janeiro com o Estado do Rio, não fazem sentido. É choro sem motivo de um povo que não soube aproveitar as oportunidades econômicas que a transferência da Capital e depois a fusão ofereceram. Durante muito tempo, tudo o que se fez por aqui tinha o caráter provisório, porque a decisão de transferir a Capital da República e a fusão deveriam ser desfeitas. 

Mas, mesmo assim, a natureza garantiu outras oportunidades. Destaco a ECO-92, que poderia ter feito da cidade e do estado exemplo de locais com altos índices de saneamento básico e aplicação de sistemas modernos de conservação do ambiente. Destaco também a realização de duas Copas do Mundo, dos Jogos Pan Americanos, Olimpíadas e outras realizações com visibilidade de potencial econômico que ficaram pelo caminho e deixaram escombros de obras mal-feitas ou inacabadas. 

Fizemos péssimas escolhas na hora de votar. Conseguimos a proeza de reunir numa mesma personalidade, os ex-governadores Chagas Freitas e Amaral Peixoto. Um da Guanabara e outro do Estado do Rio. Do casamento deles nasceu Leonel Brizola, que gerou Saturnino, Marcello Alencar, César Maia, Garotinho e Eduardo Paes. Sobreviver a essa gente seria impossível, mesmo com todas as oportunidades que nos foram oferecidas pelo destino em razão do enorme presente que a natureza nos deu. 

Em 1982, os estados retomaram a autonomia administrativa. Em 1985, foi a vez das capitais e cidades consideradas de interesse para a segurança nacional. Os generais, então, começaram a deixar o poder, depois de mais de 20 anos no comando da Presidência da República. 

O Estado do Rio de Janeiro elegeu Leonel Brizola. Instalou-se o que ele mesmo denominou “Socialismo Moreno”, política que definiu o crime como última opção dos miseráveis por um prato de comida e algo para beber. Para evitar que o crime pelo prato de comida proliferase, Brizola criou escolas de tempo integral, que a vaidade dele permitiu serem chamadas de Brizolões. O modelo educacional aplicado inspirou-se no antropólogo Darcy Ribeiro. O objetivo era manter os filhos dos pobres nas escolas o dia todo para tirá-los do crime. As horas de estudo e alimentação seriam o elemento oferecido pelo Estado para concorrer com o dinheiro farto e fácil das drogas. Para substituir o tênis, a menina virgem e bonita e tudo o que o dinheiro fácil poderia comprar, o governador oferecia café da manhã, almoço, livros e uma cadeira dura numa escola. Não passou pela cabeça do “Socialismo Moreno”, que o combate direto ao crime seria mais eficaz. Nada disso. Gastou-se fortunas com a construção de escolas à beira das estradas para que o povo pudesse ver. 

Eleito governador, Leonel Brizola ganhou a prerrogativa de escolher um prefeito para a Cidade do Rio de Janeiro. Escolheu Marcello Alencar e depois Jamil Haddad. Em 1985, o povo foi chamado para escolher. Escolheu que Brizola gostaria que fosse o escolhido, Saturnino Braga e a Cidade faliu, um fato inédito na histórias das cidades brasileiras e se bobear, das cidades no mundo inteiro. 

Contou-se as mentiras de prejuízo com a transferência da Capital para Brasília e com a fusão. Depois, a mentira maior dos Brizolões sendo armas para tirar as crianças do crime e depois, tudo isso, somado, criou a mentira dos grandes eventos internacionais e dinheiro ganho com as festas no carnaval e réveillon. 

A verdade está num fato. O povo escolhe os governadores e prefeitos e eles não têm a menor noção do que fazer com o estado e com as cidades que nele estão. Sequer têm noção do potencial que há a ser explorado. Por isso, seguimos sendo o estado onde o crime encontrou um ambiente altamente favorável e se instalou nas favelas, nos palácios, em todas as brechas que encontra pelo caminho. 

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Sete de Setembro.

Uma parte do povo brasileiro foi às ruas no Dia da Independência. Cantou o Hino Nacional, vestiu verde-amarelo e aplaudiu o Presidente Jair Bolsonaro. Há muitos anos não se via no Brasil comemorações de fato, comemorações de verdade e festiva no Sete de Setembro. A bandeira nacional estava nos carros, nas janelas e vestia o povo. O povo fez um mar verde e amarelo nas ruas. 

Outra parte do povo criticou. Estava irritada pela captura do dia para a campanha de reeleição do Presidente da República. Lula chegou a dizer nas redes que esse negócio de usar verde e amarelo é uma bobagem. 

Vá lá que os eleitores do Presidente da República usem a bandeira e o hino nacional, a cor verde-amarela e camisas com a marca da Seleção Brasileira de Futebol para fazer campanha. Que problema isso causa? Nenhum. Faz tempo, que Jair Bolsonaro levou para si os símbolos nacionais, uma atitude facilitada pelo fato do outro polo ter como marca a cor vermelha. 

A contrariedade e a ignorância de alguns agentes públicos, que julgam ser o Estado o proprietário dos símbolos nacionais e do povo, chegou ao ponto de ter juízes com decisões para proibir o uso das cores da bandeira e da própria bandeira na campanha eleitoral. Ora, ora. Essa gente! 

A democracia dói quando toca nos agentes do Estado Brasileiro. Dói uma dor doída. Temos vivido tanto tempo sob o julgo do Estado que viciamos seus agentes, mesmo aqueles eleitos pelo povo. A pessoa coloca um crachá no peito, um certificado na parede e já se julga proprietária da vontade dos outros. 

Não gosto dos socialistas, porque detesto o Estado opressor, o Estado que se acha dono da vontade do povo. Ora, se o dia é o Dia da Independência, firmado sobre um slogan que vincula a falta de liberdade à morte, então, que se deixe o povo comemorar. Quem sabe não será este o último dia alegre de comemoração da Independência? Poderá ser se em outubro, o outro lado do povo que estava nas ruas vencer a eleição. Queira Deus que não. 

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O SANTO É DE BARRO.

Calma com o andor, porque o santo é de barro. 

O Prefeito Eduardo Paes convidou o escritor Ruy Castro para uma das reuniões com os secretários municipais e apresentou uma parte da fala dele no Instagram. Vou reproduzi-la, em seguida, mas não posso, a bem da verdade, deixar de fazer uma observação pertinente sobre o Prefeito que ouviu, aplaudiu e abraçou Ruy Castro.

Eduardo Paes está na política do Rio de Janeiro desde os 23 anos de idade. Conta hoje com 52 ou 53 anos. Começou por aqui com César Maia, quando assumiu a Subprefeitura da Zona Oeste, e a incumbência de administrar os bairros da Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá. Foi vereador, representante do povo carioca e depois deputado federal, para, em Brasília, representar o povo do estado.  Licenciou-se para ser o Secretário do Meio Ambiente, ainda com César Maia. .

Deputado federal, aliou-se com Sérgio Cabral, de quem foi Secretário Estadual e, por conta da aliança com Cabral, teve influência significativa com os presidentes Lula e Dilma. Eleito Prefeito três vezes da Cidade do Rio de Janeiro, já cumpriu dois anos do terceiro mandato, que tem quatro anos. 

E este ano, Eduardo Paes aproveita a eleição para prestar apoio ao candidato do PDT, partido ao qual ele já foi filiado e criado por Leonel Brizola, que governou o estado por oito anos e comandou a Prefeitura do Rio com Jamil Haddad, Saturnino Braga e Marcello Alencar.  

Dito isso, vamos às palavras do escritor Ruy Castro proferidas na reunião do Prefeito Eduardo Paes com os Secretários Municipais e aplaudidas e com o calor de um abraço do prefeito: 

“  Uma cidade que sobrevive à perda da Capital, à fusão, a vários governos estaduais que nós tivemos e não precisam ser citados, sobrevive à hostilidade federal, às várias crises econômicas, à pandemia e ao Crivella. Essa cidade não acaba. Essa cidade é invencível!” 

É possível dizer que Eduardo Paes nenhuma responsabilidade tem com os problemas que o escritor aponta? E é fato que a cidade é invencível, após todas as perdas que tivemos de posição política e econômica com relação ao país e ao mundo? 

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Paulo Ganime e a Insegurança Pública.

Não sorria. Você continua sendo enrolado. 

O deputado federal Paulo Ganime produziu, para o Diário do Rio, um texto infeliz do título – “Sorria,você está sendo enrolado”- à última frase: “A melhor política de segurança pública é aquela que salva vidas e pune os verdadeiros culpados”. E…? 

Ninguém está autorizado a dizer que o povo fica feliz ao ser enrolado. Muito menos alguém que tenha como obrigação representar este mesmo povo. A ironia não é boa companheira do discurso político. 

O deputado federal Paulo Ganime, candidato a governador pelo Partido Novo, uma pessoa qualificada, que tem ótimas intenções na política, construiu o artigo com o desejo de comentar a política de segurança pública aplicada no estado que ele pretende governar. 

O deputado critica as UPPs, as câmeras colocadas nas fardas dos policiais militares e a decisão do Ministro Edson Fachin de proibir que a polícia entre nas comunidades e favelas a não ser em casos “absolutamente excepcionais”. 

Bem, a crítica é exercício de liberdade, mas quando ela vem sobre a política de segurança pública na voz de um candidato ao governo do estado, tem peso diferente, porque o governador é a pessoa que de acordo com a Constituição Federal tem, com exclusividade, a obrigação de cuidar da segurança pública nos estados. 

Qual é a proposta do deputado Paulo Ganime para o problema? Diz ele: “O Estado precisa garantir a liberdade e a segurança do cidadão, seja ele de qualquer classe social ou nível educacional”. Ótimo. Como? Ele responde: “Com ações de planejamento, inteligência, modernização das polícias, aprimoramento das investigações e, acima de tudo, com a valorização dos policiais, não apenas com salários compatíveis, mas também com treinamento e planos de carreira”. E, novamente, uma frase de efeito: “A proteção da população vem da qualidade de como o policial é tratado”. Então, se bem tratado o policial, a população estará protegida. Certo? Pode não ser. 

Se eleito governador, Paulo Ganime não poderá ficar, na superfície do tema como fez no artigo, nem na posição de mero crítico, articulista da imprensa ou nas frases de efeito e marketing eleitoral. Ele não deveria entrar na onda que ele mesmo condena: enrolar. Ele precisa ir mais fundo e começar por compreender direitinho o que já se fez e a razão de tudo o que foi feito não ter dado certo. 

Vamos lá. Brizola. Ele defendia que com educação integral, meninos e meninas não seriam bandidos. Fez os CIEPs, prédios com bonito visual, para serem plataforma eleitoral. O crime cresceu. 

Moreira. Ele chegou batendo pesado e, embaixo do braço, com os presídios de segurança máxima para prender todos os líderes do chamado crime organizado. O crime cresceu. Brizola retornou com a mesma política de antes. O crime cresceu. 

Marcello Alencar. Este quis a contribuição faroeste. Achou que a polícia precisava disso para combater o crime. O crime cresceu. 

Garotinho. Chegou bem chegado com a proposta de reformar as polícias, tirar cárceres das delegacias e aprimorar as investigações. Criou até fardamento novo. Fez tudo certinho, mas nada deu certo, porque os bandidos continuam armados. O crime cresceu. 

Podemos pular Benedita, que ficou com o troféu de prender Elias Maluco e usar um dirigível. Podemos passar batidos pela Rosinha para ir direto ao Cabral que, depois de promover uma chacina no Complexo do Alemão e ser aborrecido pela ONU, resolveu ocupar as comunidades no sapatinho. Eram as UPPs. O crime cresceu. 

Veio Witzel e Cláudio está lá. O crime não dá sossego. A polícia chega nas comunidades e é recebida a bala e granadas. 

O que não se fez ainda? Não se desarmou os bandidos. Nunca. Os políticos saem em campanha pelo estado vangloriando-se de entrar nas comunidades e ver garotos e garotas armados. Na campanha para o governo do estado em 2006, Denise Frossard, com sinceridade, disse que não se sentia segura ao subir nas favelas. Eduardo Paes, fanfarrão, foi à Maré trepado numa bicicleta para dizer-se mais corajoso que a Juíza. 

A UPP começou pelo desarmamento e desistiu. Para desarmar é preciso polícia e investigação séria para saber a causa de o Rio de Janeiro ter, nas mãos dos bandidos, verdadeiros arsenais, com os quais eles recebem a polícia à bala. A sociedade precisa ter meios para saber que destino têm as armas apreendidas, para viver com a certeza de a polícia não estar enxugando gelo ou envolvida. 

Ouço, com frequência, a crítica ao Ministro Fachin. A mesma crítica se fez ao Brizola. Para esses, a resposta está com Luiz Eduardo Soares, nos relatos que ele fez do tempo em que foi Secretário de Segurança Pública do Estado, tempo em que quase chegamos à solução do problema. O trecho que reproduzo está no livro “Meu Casaco de General”, que todo candidato a governador do Rio deveria ler: 

“Quem não mora numa favela experimenta a angústia da insegurança e o medo da violência. Quem vive lá sente pavor e desespero. Só quem vive nas comunidades, nos morros, nos bairros populares dominados pelo tráfico e episodicamente invadidos pela polícia, sabe do que é que se está falando quando se diz risco…”. 

Além do que fizeram os governadores, na história da Segurança Pública no Rio de Janeiro há intervenções, a última muito recente, que produziu um consistente relatório que o deputado Paulo Ganime deveria conhecer. 

O deputado fala sobre as milícias e o tráfico, mas não aborda o complexo problema do sistema prisional. Quem sabe num próximo artigo? 

Se eu pudesse dar um conselho ao deputado candidato ao governo diria: prepare as polícias para desarmar quem as enfrenta quando elas aparecem para cumprir as funções que a lei designa. Se não desarmar, o crime terá território livre para agir no estado do Rio de Janeiro. 

O deputado foi relator de um projeto sobre a liberdade de andar armado. Ele disse que o porte de arma não é tema de segurança pública, mas de liberdade. Pois, bem, levanto uma questão. Que garantia se dá ao cidadão que, uma vez roubada a arma que ele, por liberdade, porta, ela não será usada por um bandido qualquer? 

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Salim Mattar tem a receita de um bom governo.

A Petrobrás está, novamente, na berlinda. Agora, pelo aumento do preço dos combustíveis. Lula culpa Bolsonaro, que, para se livrar da culpa, substituiu o Ministro das Minas e Energia. O novo ministro, numa atitude de defesa prévia, promete privatizar a empresa. O Presidente sinaliza que topa, quando nunca topou. Ele diz que quer, porque, desse modo, recupera parte do discurso que fez em 2018, com bom resultado. Mas, no Brasil consciente, sabe-se que, tendo mais 4 anos ou não, o Presidente Jair Bolsonaro não realizará a proeza. A menos que…

Para entender o motivo, voltemos no tempo. Visitemos o dia quatro de janeiro de 2021. Vamos ao “Direto ao Ponto” da Jovem Pan News. Naquele dia, cinco jornalistas entrevistaram Salim Mattar e ele, ao esclarecer a razão de ter deixado o governo, mostrou as causas da enorme dificuldade que tem o projeto de privatização para caminhar minimamente no Brasil. 

Sintetizei as palavras do Salim: falta vontade política e convicção, tanto no Poder Executivo, como e, principalmente, no Congresso Nacional. Também na maioria do povo brasileiro, que não identifica uma relação de causa e consequência, entre o Estado grande e os problemas que enfrenta como sociedade. 

Na entrevista, Salim Mattar dividiu o povo brasileiro em duas categorias distintas: “cidadãos de primeira categoria e cidadãos de segunda”. Entre os de primeira categoria ele citou os 12 milhões de servidores públicos. Entre os de segunda, os 30 milhões com carteira assinada e 14 milhões de desempregados. 

Ora, quarenta e quatro milhões não seriam suficientes para conquistar uma mudança? Sem dúvida, mas ocorre que os cidadãos de primeira categoria  vendem bem o peixe que os alimenta: O ESTADO GORDO! Os que estão classificados na segunda categoria ou não têm quem consiga mostrar-lhes a relação de causa e consequência entre o Estado opressor e a sociedade faminta, ou sustentam-se nos privilégios que recebem dos cidadãos de primeira categoria. 

Falta quem lidere o processo de conscientização no meio do povo que soma maioria suficiente para enquadrar os servidores do Estado Brasileiro, sejam eles eleitos, concursados ou beneficiados com o dom da bajulação. 

Nesse sentido, o discurso do Salim Mattar está pronto. Ele questiona o Congresso Nacional, que pode ser quase totalmente trocado em outubro e defende a elaboração de uma nova Constituição, bandeira que, Salim lembra ser também uma proposta do Modesto Carvalhosa. 

Salim Mattar não deixou dúvida: o presidente pode querer privatizar, o ministro querer mais ainda e, enquanto o Congresso Nacional não quiser, nada acontecerá. Ele deveria dizer isso aos quatro ventos, todos os dias e de todas as formas, para que todos os liberais entendam, por definitivo, que é hora de aproveitar a oportunidade da eleição do Congresso Nacional para enquadrar o Estado Brasileiro. 

A entrevistadora Denise Campos de Toledo, de certo modo, sustentou a afirmação de Salim Mattar, ao citar a vontade política do Congresso Nacional no tempo de Fernando Henrique Cardoso, que conseguiu proezas na privatização da telefonia, da Vale do Rio Doce e da CSN…”Num tempo”, disse ela, “quando ainda não se tinha toda a aversão às empresas estatais criada pela corrupção desenfreada e pela operação Lava-Jato”. Denise  contrapôs o argumento na relação do Presidente Jair Bolsonaro com a privatização, ao citar o caso CEAGESP, que eu comentei quando ocorreu: https://www.aquitudoepolitica.com.br/?s=CEAGESP 

É horá de falar e pregar em todos os lugares e para todas as pessoas, a importância do voto para a composição do Congresso Nacional. Salim Mattar fez uma previsão que se pode antecipar. Disse ele que em 2026, teremos uma bancada de deputados federais e senadores formada com um número suficiente de liberais para mudar o jogo. É possível fazer isso em 22! Eu acredito! 

Boa semana. 

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Não há democracia a defender.

Fico irritado, toda vez que ouço os agentes do Estado Brasileiro dizerem que tomam decisões em defesa da democracia. Sejam eles nomeados por concurso ou designados pelo mérito da bajulação, com função por prazo certo ou vitalício. Ora, para defender a democracia é essencial é que ela exista e, se existir, que esteja em risco.

Somos uma democracia? Uma democracia pressupõe que o poder emane do povo. Como todo o povo não consegue se pronunciar diretamente, adaptou-se a democracia para que o povo exerça o poder por intermédio daqueles que ele escolhe por um processo de seleção feito com liberdade. 

No Brasil, quem o povo pode escolher para representá-lo nos parlamentos e governar a favor dos seus interesses, as cidades, os estados e a nação? Os nomes indicados pelos partidos. Mas, digamos que nenhum dos nomes submetidos ao povo seja do seu agrado? Paciência! Durmam, eleitores, com o problema, porque os votos brancos e nulos, expressão da vontade popular, são jogados no lixo e as abstenções desconsideradas e quando não, sujeitas a multas. 

O povo não deveria, então, ter a liberdade de participar da indicação dos candidatos nos partidos? Claro. Mas, não tem. Nos partidos mandam os seus donos. A filiação está autorizada e é, inclusive, estimulada, mas ela não implica em ter o poder de decidir. 

Como contribuintes, os membros do povo pagam as contas dos partidos via fundos partidário e pagam as despesas dos partidos com as campanhas, via fundo eleitoral. Mesmo assim, ninguém do povo, só por ser do povo, tem a liberdade de associar-se aos partidos com poder de decisão. 

Dizem para mim, que no Partido Novo isso funciona diferente, porque lá não se usa o dinheiro do povo; usa-se o dinheiro de quem se filia. Só que nem por isso, quem se filia, decide. Afinal de contas, para quem dirige o Partido Novo, contribuir já é ato de participação voluntária. Seria um exagero de liberdade ir além disso. 

Temos, então, um fato incontestável: quem o povo acredita que o representa, na verdade, representa interesses outros que não os dele. Por isso, ele se afasta cada vez mais da política. 

É hipocrisia dizer que no Brasil há uma democracia a defender, se o povo não tem liberdade para designar aqueles que, nomeados por ele, entre as pessoas que fazem parte do conjunto, estão autorizados a elaborar as leis, decidir quanto de imposto todos pagarão para sustentar um Estado, que seja só instrumento à disposição do povo. 

No Brasil há um grupo de pessoas que acredita, com fé absoluta, ter sido escolhido e iluminado para tomar decisões pelo povo, por acreditar que o povo, definitivamente, não sabe decidir o que é melhor para ele mesmo. Eis os agentes do Estado Brasileiro! 

Eles tudo podem, tudo são capazes de fazer, porque, iluminados, sabem exatamente o que é melhor fazer para que o povo seja feliz. E, se você, minha cara leitora, meu caro leitor, duvidar de mim, pare por um momento e ouça os discursos dos candidatos em campanha. 

Em cada frase, em cada vírgula, ponto e dois pontos, com exclamação e aspas, eles garantem que, no poder, farão o que é melhor para mim e para você, sendo eles escolhidos por eles mesmos. Na lista de pontuações, no discurso deles, só não existe a interrogação, porque eles juram que tudo sabem.  

Por aqui, as eleições funcionam como no Irã, uma teocracia islâmica. Lá há eleições livres, com voto secreto e apuração pública, mas os candidatos que disputam são escolhidos e vetados pelo líder supremo, que tem mandato vitalício e representa um ente divino. 

No Irã como aqui, o povo tem liberdade para votar, desde que seja nos nomes escolhidos por um líder supremo. e estamos conversados. E, por falar em eleições no Irã, sugiro que você assista “118 dias”, um filme que eu assisti no ano passado. Vale a pena. 

Boa semana para todos. 

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O Partido é NOVO?

Público do Zema.

Não consigo desamarrar o conceito de liberal da referência ao modo como funciona o Estado. Muitos pensadores ampliam a definição, para posições mais filosóficas e poéticas, para navegar no alto mar da ciência política. Eu sou um plebeu entre os da elite do pensamento e, por isso, sinto-me à vontade para considerar-me um liberal, pelo modo como entendo o papel dos agentes públicos na sociedade – o jeitão como o Estado Brasileiro funciona.

É com esse sentimento, que assisti a entrevista que o João Amoêdo concedeu ao Noir Podcast, comentada pelo Boletim da Liberdade, com a seguinte manchete: “Amoêdo mostra-se cético sobre papel do liberalismo no NOVO: não deve ficar escravo”.

Quando fez referência ao liberalismo no Partido Novo, João Amoêdo afirmou que a ideologia liberal não foi a motivação dos fundadores do partido e também não é a razão da existência dele. Os liberais formam um nicho, segundo ele.

O objetivo dos fundadores – disse João Amoêdo – foi criar um instrumento de ação política, para “os não políticos” colaborarem com o esforço de “melhorar a vida das pessoas, devolver o poder de decisão para o cidadão e garantir eficiência na máquina pública”. Uma maneira didática de dizer que o Partido Novo é, sim, ou pelo menos, tentou ser, escravo do pensamento liberal.

Paulo Cruz, entrevistador principal, fez referência ao Estado Brasileiro, quando apresentou João Amoêdo: “Estamos aqui com ele, que é empresário, político hoje e é um batalhador pelas ideias políticas livres de amarras estatais – digamos assim”.

Adiante, Paulo Cruz fez, novamente, referência ao Estado Brasileiro: “É feito para não funcionar. É feito para ser emperrado; para ser patrimonialista, caro, grande e lento”. João Amoêdo completou a frase: “para manter quem está lá. Para ser ineficiente. Para alocar mal os recursos”. Logo depois, João Amoêdo afirmou: “Muita gente diz que o Brasil precisa de um Estado grande, porque é muito pobre. Eu defendo o contrário. O Brasil é pobre, porque tem um Estado muito grande”.

O liberalismo saiu com vida da entrevista. O Partido Novo, não!

João Amoêdo falou sobre as dificuldades que teve, quando aceitou o convite da maioria dos diretórios do Novo para ser, novamente, candidato à Presidência. Quem tem mandato conquistado com o voto popular não aceitou a candidatura do João Amoêdo, por capricho e enquadrou os membros dos diretórios, que, pelo Estatuto, seriam os senhores da decisão.

Para evitar o João Amoêdo, o grupo criou uma cortina de fumaça com a candidatura de um deputado federal por Minas Gerais, terra do único governador eleito pelo partido; convocou quem tem mandato para um encontro em Santa Catarina, local da única vitória do partido na disputa por uma prefeitura e deu o recado. No melhor estilo da tradicional política brasileira, o grupo empurrou João Amoêdo para a desistência, sem assumir a decisão formalmente. É o que disse João Amoêdo.

Ele mostrou, deste modo, que no Partido Novo, se não são os filiados que deliberam – o que é ruim – menos ainda deliberam os diretórios, que representam os filiados. Lá, quem decide é a força dos mandatos exercidos no corpo do Estado Brasileiro.

Chegamos, então, ao ponto de o Novo apresentar aos eleitores um candidato à Presidência que não é escolhido pelos filiados e menos ainda, com liberdade, pelos membros dos diretórios.

Aconteceu do mesmo modo aqui, quando Paulo Ganime foi escolhido para representar o partido na disputa pelo governo do estado. Quem tem mandato popular determinou a estratégia do partido, sem ouvir os filiados e criando uma cortina de fumaça nos encontros regionais do partido. Juliana Benício concorreu com Paulo Ganime e sofreu constrangimentos semelhantes aos impostos ao João Amoêdo.

Quase ao final da entrevista, João Amoêdo diz que o PT e o Lula estão mais fortes, por causa do Bolsonaro. Discordo. Os motivos são outros e passam pela estratégia errada do Sérgio Moro e dos liberais, que não conseguem mostrar ao povo brasileiro que uma campanha eleitoral tem tudo para dar errado quando é feita contra os candidatos e não a favor de um ideal, que no Brasil deveria ser de redução drástica do poder que o Estado tem de se meter na vida das pessoas.

É o Novo que se faz velho a cada nova decisão. É o Novo que se faz menos liberal, a cada eleição.

Artigo publicado no Boletim da Liberdade, em 18.04.2022

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O PSDB é o partido que ensina como perder eleições

Os partidos têm dono. Sabe-se disso. E assim são definidos, por serem agremiações às quais as pessoas se filiam, mas, afiliadas, não têm poder de decisão. Uma pessoa, ou um pequeno grupo toma todas as decisões.

O PSDB, contudo, ficou sem dono, para cumprir o dito popular: “filho feio não tem pai”. Nasceu de pais nobres e, para contrariar a natureza, sem mãe: Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Rocha e Pimenta da Veiga. Gente de Minas, São Paulo e Paraná.

Por ironia do destino, o partido plebeu de onde se apartaram os nobres para dar luz ao PSDB, os levou ao poder. Itamar Franco, mineiro do PMDB, colocou Fernando Henrique, do PSDB, de cara para o gol e ele deu o chute certeiro.

Nobres são nobres, gente de sangue azul, e não se misturam com a plebe. E tal nobreza, não poderia ter símbolo com mais significado e beleza, do que o tucano, uma ave que vive, quando muito, 40 anos. Os nobres tucanos presentes na política nacional farão 33 anos em junho. No dia 25 de junho, para ser exato. A natureza diz que morreram logo.

Após Fernando Henrique Cardoso, os tucanos perderam cinco eleições consecutivas para a Presidência da República. Só times de futebol sobrevivem tanto tempo e mais tempo ainda sem títulos. José Serra perdeu duas, uma por não ter tido o apoio de Fernando Henrique Cardoso, Presidente, que preferiu Lula, e a outra por ter subestimado Dilma Rousseff.

Aécio Neves, mineiro como o fundador nobre Pimenta da Veiga, perdeu uma, derrotado pela senhora Rousseff no seu pior momento. Uma lição relevante para um partido que subestima as mulheres.

Geraldo Alckmin empatou com José Serra no número de derrotas. Perdeu uma para Lula e outra para Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, representante do Lula. Parece ter cansado e decidiu unir-se ao adversário para vencer o adversário comum. “Já que você não vence o adversário, una-se a ele”.

Cinco derrotas e nenhuma lição! O PSDB fez todas as campanhas presidenciais com uma comunicação equivocada. Fosse ele um partido liberal – liberal de fato e não do tipo que atende pelo nome para disfarçar as intenções – teria observado a lição preciosa presente na melhor obra do liberal Ludwig Von Mises. No livro Ação Humana, ele alerta que os seres humanos mudam de posição na vida diante de duas circunstâncias: elas e eles, com a consciência de estar a viver uma situação ruim, saem dela, mas se concluírem que a nova será melhor do que a antiga. Se não acreditarem nisso, os seres humanos ficarão onde estão, seja num emprego ruim, numa cidade pior ou numa relação pessoal pior ainda.

Ora, por natureza, o ser humano acha os governos ruins e não gosta deles. Para gostar, precisam que sejam excepcionais, maravilhosos, acima da média das expectativas. Então, gastar tempo para falar que os governos são ruins, é uma bobagem. É “chover no molhado”. Melhor é que se gaste saliva e tempo para ganhar a confiança do eleitor numa situação que será melhor no futuro após a eleição.

Outra abordagem, que pode ser complementar e atender a quem já está no governo, é usar todos os meios que a comunicação oferece para dissolver a imagem do que é ruim e assumir o compromisso confiável de que será melhor em seguida.

A campanha do Lula contra o Serra apresentou o PT como a “esperança que venceu o medo”. Ou seja, com eles (PSDB) é ruim, comigo será melhor. Vitória! Depois, na campanha de reeleição do Lula, a mensagem do PT mudou. “Com a gente está ruim? Não é verdade. Mas, se você acreditar nisso, esteja certo que com a volta deles (PSDB) será pior”.

Este ano é a ocasião para os liberais, porque todos os não liberais estão do mesmo lado. É fácil identificá-los e vê-los de corpo inteiro. Geraldo Alckmin ajudou-nos bastante com a decisão que tomou.

Não percamos a nova oportunidade. Tivemos uma, em 1989, primeira eleição direta para a Presidência da República depois de 25 anos de jejum. Fernando Collor venceu a eleição com um discurso liberal, a favor de uma economia de livre mercado sem adjetivos, de desregulamentação, privatização e contra o intervencionismo. Nada disso aconteceu, porque o discurso não encontrou ressonância no Congresso Nacional. É lá que está o problema.

Sabe-se também que com um presidente com zero de identidade com os liberais, o Congresso poderá fazer pouco. Isso nos dá a estratégia para votar: escolher o candidato a presidente que mais se aproxima de nós; não queimar energia nem comunicação com candidatos que na presidência da república darão zero de chance às teses liberais. Do mesmo modo, apoiar que, no Parlamento, turma que no Parlamento dará curso ao que nós pregamos e um tranco naquilo que, por obviedade histórica, não acreditamos.

Boa semana para todos.

Foto: Rodger Timm/Divulgação

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Quem serão os eleitos em outubro?

Quem serão os eleitos em outubro? Você sabe? 

Quem serão os deputados federais e estaduais eleitos no Estado do Rio de Janeiro em outubro? Tomando por base a polarização entre Lula e Bolsonaro e as decisões dos eleitores em 2018, ocasião em que a polarização aconteceu entre os mesmos pólos, é possível desenhar os cenários. 

Na eleição passada, Jair Bolsonaro fez no Estado do Rio de Janeiro, barba, cabelo e bigode. Ele elegeu o governador e os dois senadores. Elegeu também 13 deputados federais e 14 estaduais se considerarmos só os eleitos pelo PSL. Mas, sabe-se que muitos outros penduraram-se nele, inclusive a turma do Partido Novo que, no primeiro turno ficou no vai-não vai com o candidato João Amoedo. 

Quando a gente olha os resultados de 2018, cidade a cidade do Estado do Rio, verifica que Jair Bolsonaro venceu o PT em todas elas e com diferenças expressivas. Na capital, por exemplo, no primeiro turno Jair Bolsonaro obteve 1.930.000 votos e Fernando Haddad, 398 mil. 

A minha análise recebeu a ajuda, no domingo passado, de um bom material publicado pela Folha de São Paulo, no Caderno Ilustrada, Ilustríssima, a mim encaminhado por duas fontes: pelo próprio autor, Antonio Lavareda e, no mesmo momento, pelo Rodrigo Bethlem, estudioso da política. Com o título “Barômetros Ideológicos”, o artigo antecipa o lançamento de um livro do Lavareda e Helcimara Telles, “Eleições Municipais na Pandemia”. 

Lavareda revisitou as eleições municipais de 1985 até 2020, e concluiu que as disputas pelos cargos de vereadores e prefeito têm funcionado como barômetros ideológicos das eleições gerais posteriores. Por gráficos presentes na matéria, Lavareda mostra que a campo ideológico da Direita venceu a Esquerda, com larga margem, nas eleições de 2020, para prefeitos e vereadores. 

A polarização teve peso na seleção, que fez o eleitor.

Sabe-se lá como será encerrado o período eleitoral deste ano, mas se o desenho for o de agora até outubro, a polarização entre Lula e Bolsonaro permanecerá a ponto de levar os dois para o segundo turno. Dizem as pesquisas que Lula chegará ao segundo turno à frente do Jair Bolsonaro. É possível, se as causas do voto dado a Jair Bolsonaro em 2018 desapareceram, ou seja, se a onda contra o PT com a força e a rapidez de um Tsunami, virou uma marola ou onda calma. Daí, cabe a pergunta: quem rejeitou o PT – e o PT é Lula e só Lula – estaria disposto a rever a posição e votar nele? 

Lula, para justificar o apoio presente de Geraldo Alckmin, disse que eles dois mudaram o suficiente para revisarem suas posições de 2018. Mas, afirmo: posições de um contra o outro e não com relação ao Jair Bolsonaro. Naquela eleição os dois estiveram do mesmo lado. E, no Estado do Rio de Janeiro, meu objetivo aqui, os votos dados ao Geraldo Alckmin, se somados aos votos do candidato do Lula, Fernando Haddad, no primeiro turno, o resultado final ainda seria favorável ao Jair Bolsonaro. 

Encerro com um ponto: haverá espaço no processo seletivo que leva o eleitor a escolher em que irá votar para a Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados e mesmo para o Senado Federal e até para o governo do estado, para candidatos que não estejam num dos dois pólos? Acredito que não. Tenho para mim e para quem quiser me ouvir, que a escolha do eleitor para todos os postos terá como base os dois candidatos à presidência, Jair Bolsonaro e Lula. 

O futuro dirá. 

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Só resta ao eleitor, aguardar

Precisava Sérgio Moro convocar a imprensa para comunicar a troca de partido? Claro que não. Para os eleitores dele e para os que ele pretende conquistar, os partidos não têm importância. Aliás, acredito que para nenhum eleitor brasileiro.

Quando festejou a entrada no Podemos e quis, agora, quebrar o constrangimento de ter saído, Sérgio Moro conversa com o mundo da política e da imprensa e não dos eleitores. E, como não está acostumado com o mundo novo, Sérgio Moro anda na campanha como um elefante em loja de louças. A cada discurso, um estrago, a cada decisão, uma vergonha.

Começo a análise da declaração dele à imprensa com uma frase, que cada um pode interpretar como quiser e atribuir a quem quiser: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Eu fico com Fernando Pessoa no lugar do general Pompeu na autoria da frase, e com a interpretação que tem mais com um general do que com um poeta, para dizer que o navegar com menor risco é o uso correto dos instrumentos de navegação. O viver, no entanto, será sempre surpreendente, felizmente. Nele nada é preciso, nem o tempo com que se contará com ele.

A estratégia é um instrumento de navegação, mas nem todo mundo acredita nela. Tem gente que prefere a intuição e a adivinhação; o ouvir sem questionar, quem vende decisões só por achar.

Após ir e vir, entre o público e o privado, Sérgio Moro retornou ao ambiente da política com uma festa de comemoração pela filiação ao Podemos. Mas, esta semana, ele apareceu para comunicar a filiação ao União Brasil, segundo partido dele em apenas quatro meses. Fez isso com menos pompa e com constrangimento. A filiação dele ao Podemos foi, então, uma decisão precipitada e pelo que se viu e se ouve nas hostes do União Brasil, a ida para lá teve também uma certa dose de precipitação.

Se olhasse com olhos mais atentos o funcionamento da política, Sérgio Moro teria concluído que filiação a um partido é decisão que os políticos só tomam no último minuto do tempo legal. Não por indecisão.

Engana-se quem acredita que os políticos demoram a decidir, por serem indecisos e que os políticos mineiros por demorarem mais, são mais hesitantes. Nada disso. Eles e elas sabem que a política é dinâmica e o ambiente se movimenta e os mineiros sabem disso bem mais que qualquer outro político. Então, esperam que as engrenagens se encaixem e, aí sim, decidem.

O encontro de Sérgio Moro com a imprensa para comunicar a filiação ao partido União Brasil foi ruim e regado com um discurso arrogante e confuso. Bem pior do que o que ele fez para comunicar a filiação ao Podemos, que foi estridente, glamouroso, mas também confuso.

Sérgio Moro chegou ao ambiente da entrevista meio sem jeito, visivelmente incomodado, vestido num uniforme de candidato, paletó escuro e camisa azul. O mesmo usado no dia da filiação ao Podemos. Ao sentar, ele desabotoou o paletó e nele limpou os óculos. Colocou alguns papéis sobre a mesa onde estavam os microfones da imprensa, usou um sorriso ensaiado, um pigarro e começou a falar. Nem de longe, ele lembrava o candidato glorificado na convenção do Podemos.

Aí, entrou em campo um texto preparado para ele, sem qualquer cuidado com a imagem que se tem dele. Retirei alguns trechos, para o exercício de um contraditório, como se houvesse um debate.

1. “Eu não desisti de nada”. Disse ele. De nada, o quê, exatamente?

2.”Sigo firme na construção de um projeto para o país. Temos que falar a verdade. O Brasil está em um ano eleitoral decisivo, no qual iremos escolher que tipo de país queremos ser…”. Qual seria a mentira?

3. “Não tenho ambição por cargos”. Quem disse que tem? Ele responde a quem, exatamente.

4. “Também não tenho necessidade de foro privilegiado ou outros privilégios, que sempre repudiei e que defendo a extinção. Aliás, não serei candidato a deputado federal.” Um aliás infeliz, porque remete à ideia de que todos os que são candidatos a deputado federal estão, na verdade, à busca de privilégio e de foro privilegiado. Gente de quem Sérgio Moro depende até para ser candidato.

5. “Precisamos, com urgência, da união do centro democrático contra os extremos. Hoje, no Brasil, quem lidera a formação desse pólo político é Luciano Bivar”. Por que Luciano Bivar? Pelo balaio de gatos que ele criou, quando juntou PSL e Democratas? Com que base Sérgio Moro faz tal afirmação?

6“Meu movimento político exigiu desprendimento e humildade.” Ficar no Podemos seria uma prova de ambição, cobiça e arrogância?

7. “Fui a primeira liderança a fazer esse gesto político em prol da unificação do centro democrático…Precisamos de outros atos de desprendimento de Luiz Felipe D’ávila, João Dória…”. O que ele quer dizer com isso? Sejam com eu. Tenham vocês o mesmo desprendimento e humildade para aceitar a minha candidatura à presidência no lugar de vocês.

Enfim, este é Sérgio Moro, o juiz que, ao aceitar ser Ministro do Presidente que venceu a eleição, depois de ter enjaulado o principal concorrente dele, deu liberdade para quem, por esperteza e conveniência, assuma a prisão do Lula como uma grande armação, imagem que a Justiça ajudou a construir, quando anulou todas as decisões do juiz da lava-jato.

No mundo das pessoas que vivem longe da política, essas coisas passam ao largo e aos eleitores só resta aguardar que os políticos acertem o passo, comecem as campanhas e ofereçam razões para receberem os votos dos eleitores.


Foto: Reprodução/Podemos