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APOSTO NA POLÍTICA.

21.05.2024

Google proibiu que campanhas políticas sejam impulsionadas pela ferramenta de anúncios Google Ads, o que implica também a suspensão da distribuição paga de conteúdos postados no Youtube. Essa é a resposta do Google às imposições da Justiça Eleitoral, uma delas, a obrigação das plataformas de manter um banco de dados com os conteúdos impulsionados pelos candidatos e partidos políticos.  As normas demonstram, uma vez mais, o grau de desprezo da Justiça Eleitoral pela política, representado pelas restrições à liberdade para se fazer campanhas eleitorais. 

Em razão desse sentimento dos magistrados e correlatos, tenho recebido sugestões para retirar toda a menção à política dos espaços onde publico conteúdos. Jamais farei isso, pois é preciso insistir na defesa da política, tanto quanto se faz a defesa da democracia, uma vez que a política é o único instrumento à disposição do ser humano capaz de tornar possível a convivência pacífica entre as pessoas. Por abolir a política, a raça humana torna-se cada vez mais um conjunto de bestas-feras, fato comprovado pela radicalização e fanatismo. 

É o caso de se perguntar: “É possível uma democracia sem política?” É, e essa situação está representada no populismo. Portanto, quando se toma a abominação à política por parte de quem diz defender a democracia com unhas e dentes e com todos os argumentos disponíveis, inclusive, o uso da força, fica-se com o sentimento de que, para essas pessoas, o populismo é bem-vindo. Ocorre que os populistas apegam-se ao poder a ponto de impedir o revezamento, a alternância, elemento essencial para definir a democracia. 

Quem por aqui anda a defender a democracia com o mesmo furor com que combate a política deveria ler com especial atenção, numa leitura compassada e anotada, o livro do filósofo basco, Daniel Innerarity, “A Política em tempos de indignação – A Frustração popular e os riscos para a democracia”. Como aperitivo, deixo aqui o registro da parte final do capítulo “A Condição Política”: “ O sucesso e o fracasso não são algo absoluto…O horizonte a partir do qual se avalia o sucesso ou o fracasso é diferente porque aquilo que é politicamente possível em cada momento está em constante mutação. Além disso, o êxito não é determinado pelos resultados imediatos; há muitos exemplos de derrotas que foram vitórias no longo prazo, do mesmo modo que há demissões que são, implicitamente, uma vitória. Claro que faz parte da arte da política intuir um estado de opinião do eleitorado, antecipar-se e corresponder ‘às suas expectativas, mas isso não basta para definir, com suficiência, uma política bem-sucedida, já que nesse caso o seu melhor exemplo seria o populista com menos escrúpulos. O sucesso na política e o sucesso político não são, necessariamente, idênticos. 

Numa sociedade estão sendo feitos, constantemente, juízos políticos no curto prazo (pesquisas, opinião nos meios de comunicação, eleições, etc.), mas cada uma dessas avaliações tem um prazo de validade próprio. As avaliações potencialmente duradouras exigem certo distanciamento. Aquilo que parece um êxito visto de perto pode ser um fracasso contemplado a partir de longe. (…) A agitação midiática, o ciclo eleitoral e o juízo da história são regidos por registros temporais diferentes e é quase impossível jogar bem em todos os terrenos. Aos grandes assuntos políticos, apenas a posteridade é que pode julgá-los com rigor, algo que sem dúvida deixará insatisfeito o político que os cidadão julgaram, pensa ele, com muito rigor…O que mostra bem que a política é uma tarefa tão difícil quanto pouco rigorosa.”

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CADÊ O SIVAM? 

20.05.2024

Está na primeira página do Estadão de ontem: “Amazônia tem onda de saques a embarcações por “piratas de rio”. R$100 milhões é o prejuízo anual causado pelos piratas ao transporte de cargas no Rio Amazonas, diz o Instituto de Combustível Legal”. A matéria cita a atuação de duas facções, uma local e o Comando Vermelho, quando a cocaína entra na pauta. A matéria cita o uso de tecnologias contra o crime, inclusive, uma desenvolvida por Elon Musk, celebridade desses tempos de polarização. O Brasil é mesmo um hospício fiscal: torram fortunas com um projeto de monitoramento da Amazônia, aprovado com fortes polêmicas, e não se tem notícias dele, nem nas queimadas, nem agora na pirataria. O Sivam deve ter a mesma utilidade que têm as câmeras nas cidades: divertimento para os usuários da internet. Os agentes de segurança pública 

ODEIAM investigação, pois dá trabalho e queima a cabeça.

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ELES SÃO UNS INTROMETIDOS. 

18.05.2024 

Os agentes do Estado Brasileiro, eleitos, concursados ou nomeados por apadrinhamento, acreditam saber mais do que as outras pessoas, o que é melhor para elas. Eis mais um exemplo: 

O Ministro Paulo Pimenta, agora Ministro Extraordinário,  informou ao distinto público em entrevista à TV (Record): 

“Senhor e senhora que está lá no abrigo me ouvindo agora: Sua casa está debaixo d’água e a senhora sabe que não vai voltar para lã. Tem gente que quer voltar e reformar a casa. A gente tem que considerar também essa hipótese. Ele vai encontrar o imóvel. Não precisa ser na cidade em que ele está.  Nós vamos comprar esse imóvel pra ele. Segunda situação. Nós vamos comprar todos os imóveis – PRESTA ATENÇÃO, SAMUEL – que estão a leilão no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal e que estão desocupados…O Governo Federal vai comprar todos os imóveis que estão em leilão. E vamos colocar eles nesse programa.”  

Vejam que não passa por eles a possibilidade – nem de longe – de devolverem às vítimas o que elas pagaram de impostos ao governo federal ou deverão pagar nos próximos anos, para que elas, por si mesmas, resolvam onde e como morar.

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O BOI DE PIRANHA! 

Jackson.  26 de abril de 2024

Conta o velho costume que o melhor modo para atravessar uma boiada num rio onde há piranhas, é oferecer-lhes, num dos pontos distante do local da travessia, um boi vivo para que elas, ocupadas em devorá-lo, não prestem atenção ao resto da boiada. O compositor Almir Sater comparou o ato ao sacrifício de Cristo, por Ele ter entregue a vida pelos pecados da humanidade. 

Longe de mim, comparar-me com Cristo, pois isso seria uma blasfêmia, uma heresia, mas posso dizer que me sinto como um “boi de piranha”, entregue à voracidade do fisco, que me devora para que os agentes públicos, bois de raça, atravessem a vida sem risco e com conforto. 

Ao mesmo tempo em que me classifico, alerto vocês, minhas caras leitoras, meus pacientes leitores, que, se vocês forem bois de sacrifício como sou, fiquem atentos, pois exatamente agora, no Congresso Nacional, as piranhas afiam os dentes e colocam mais força nas mandíbulas, alimentadas pela regulamentação da reforma tributária. 

Serei devorado. Sei disso. Sei por experiência, pois, ao longo da vida tenho visto que todas as vezes que os agentes do Estado, eleitos ou não eleitos, são chamados a opinar sobre tributos, eles, imediatamente, encontram meios, modos e justificativas, para arrancar mais dinheiro do meu bolso e pedaços maiores do meu corpo. 

Haverá como evitar esse ciclo insano de sacrifícios? Imaginei que sim, quando escolhi pessoas para, por mim, decidirem o que fazer com os impostos, mas não é que, tão logo chegam à margem do Rio, os meus representantes, apressam-se a compor o rebanho de bois de raças, aquele que atravessa os rios sem risco de perder a vida. 

O que fazer? Confesso que não sei mais. 

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“GOSTEI DO SÉCULO”. 

Márcio Moreira Alves, jornalista, deputado federal, foi alguém que pela coragem ou ingenuidade, desafiou o poder militar no tempo em que fazer isso era  considerado loucura. Ele faleceu em 2009 e deixou um legado de crônicas, as melhores publicadas com o título que tomei dele para o presente artigo, “Gostei do Século”. Certamente, Márcio foi mais feliz por ter partido antes de viver o que andamos vivendo no momento, nesse Brasil que só Deus é capaz de compreender e o Diabo de fazer uso. 

Entre as crônicas há “Imprensa e Política”, que os movimentos presentes me estimularam a compartilhar alguns trechos com vocês. A crônica tem o dia 2 de abril de 1996 como data, algo que aconteceu há 28 anos, portanto. Sem mais, vamos ao texto do Márcio: 

“Um projeto de lei de imprensa se arrasta pelas comissões da Câmara há três anos. Prevê pesadas multas para quem divulgar notícias falsas, injúrias ou calúnias. Dormia, posto em sossego, quando surgiram as notícias de barganhas sobre a votação da reforma da Previdência (…). Uns apressadinhos logo propuseram conferir-lhe “urgência urgentíssima”, na tentativa de intimidar os meios de comunicação. 

Não conseguiram nada, mas berraram…

As tentativas de cercear a imprensa são antigas quanto a própria liberdade de imprensa, surgida com a Independência. Algumas vezes foram bem-sucedidas, nos períodos ditatoriais. 

A censura sempre encontrou resistências em jornais e jornalistas corajosos. No período militar, o Estado de São Paulo foi exemplar, publicando receitas de bolos e versos de Camões no lugar das notícias suprimidas. Não esteve sozinho na luta, mas faço o registro em homenagem ao seu diretor, Júlio Mesquita Neto, hoje em estado terminal. Ele pode dizer, como François Mitterrand: “Fiz o que pude”

A nossa imprensa não é perfeita, longe disso. Muitas vezes é preconceituoso, comete erros, acolhe calúnias. No entanto, é hoje a melhor imprensa que jamais tivemos e, juntamente com a da Argentina, a melhor da América do Sul e uma das melhores do mundo(…). 

Na minha opinião, o repórter é pago para informar o que os que estão nos postos de decisão pensam, o que pretendem fazer e, se tiver capacidade de análise e gosto pelo risco, para prever o que acontecerá. Quem é pago para ser a favor ou contra são os políticos e os que ocupam cargo de confiança no Executivo. 

O nosso modelo de imprensa é norte-americano. Logo, as revistas nacionais e os grandes jornais tentam seguir a regra colocada por Adolph Ochs no credo do New York Times: “Publicar as notícias com imparcialidade, sem medo ou favoritismo, sem se deixar influenciar pelos partidos, seitas ou interesses em jogo.” O cabeçalho de seu jornal diz “Todas as notícias que merecem ser impressas.” É verdade que muitas vezes também seguimos o conselho que Frank Simons, dono do News York Tribune, dava aos seus repórteres: “Só há uma maneira de um jornalista olhar um político: de cima para baixo”. 

No reverso da medalha, o presidente Lyndon Johnson disse, certa vez: “O fato de alguém ser repórter de jornal já indica que tem uma falha grave no seu caráter.”

Neste assunto, quem provavelmente tem razão é o Pat Oliphant, o mais célebre caricaturista dos EUA. Uma vez ele confessou que conhecia pouquíssimos políticos. Justificou: “Tenho medo de gostar deles”. 

Prudente atitude. Já imaginaram o Paulo Caruso andando pelos corredores do Congresso? Seria churrasqueado na primeira esquina, ainda que, por falta de combustível, José Sarney tivesse de sacrificar os seus bigodes para acender o fogo. 

A verdade é que a imprensa livre e políticos, gostem ou não uns dos outros, estão casados para sempre. Trabalham com a mesma matéria-prima e um não existe sem o outro. Como dizia Nelson Rockefeller, governador do estado de Nova York: “A política é a vida e o sangue da democracia. Chamar a política de suja é chamar de suja a democracia.”

Os grandes pensadores da Construção dos Estados Unidos, Thomas Jefferson e James Madison, em um comunicado da delegação da Virgínia ao Congresso, escreveram: “Devemos à imprensa, apesar de seus inúmeros abusos, todos os triunfos conseguidos pela razão e pela Humanidade contra o erro e a opressão.”

Dois séculos mais tarde, o presidente Kennedy declarou: “Mesmo que não gostemos; mesmo que desejamos que não fosse publicado; mesmo que desaprovemos, não há dúvidas de que não poderíamos governar em uma sociedade livre sem uma imprensa, muito, muito ativa.”

Como vêem, a herança da imprensa livre é grande demais para ser ameaçada por negociadores de favores políticos”. 

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NO DIA EM QUE DEUS SE ARREPENDEU…

Domingo de Páscoa de 2024. 

“Viu o Senhor  que a maldade do ser humano se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então, arrependeu-se o Senhor de ter feio o ser humano na terra, e isso lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e os animais…( Gênesis 6:5). Por Noé existir, Deus resolveu, com Moisés começar de novo. 

Um segundo de meditação, de pouca atenção que seja com os fatos criados pela humanidade é suficiente para entender a razão do arrependimento de Deus. 

Alexei Navalni, opositor de Putin, assassinado pelo tirano, declarou diante do tribunal o condenou: “Deus lhes deu a vida e é assim que vocês escolhem vivê-la?”

Não há tiranos sem a ajuda dos covardes que cumprem as suas ordens. 

Na sexta, no sábado e no domingo, falou-se sobre a cruz em que Cristo foi crucificado, ferido e morto, depois de ser esvaziado de todo o sangue e ser exposto aos escárnios da multidão que o condenou. 

Deus, claramente, desistiu de fazer desaparecer a humanidade da face da terra. Ele deixou a tarefa com o próprio ser humano, que tem feito uma obra irretocável a começar pela criação do Estado, lugar onde os tiranos estão abrigados, protegidos pelos covardes. 

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O “CARA” É UM SÁDICO IMBECIL. 

19.02.2024. 

No encontro dos países do G-20 em 2017, Barack Obama, naquele tempo, presidente dos Estados Unidos, referiu-se a Lula, presidente do Brasil, numa roda de chefes de Estado, do seguinte modo: “Esse é o cara! Eu adoro esse cara! Ele é o político mais popular da Terra”. Lembrei-me da passagem, quando me deparei, hoje, com a declaração desse “cara” sobre Gaza, Genocídio, Hitler e Judeus. 

Pedi socorro ao escritor Amós Oz. Ele disse, na palestra que fez na manhã do dia seguinte aos ataques terroristas em Paris, no ano de 2015: “Tenho mantido uma discussão amarga com um compatriota muito famoso e meu correligionário judeu, Jesus Cristo, que diz: “Perdoa-lhes Pai, pois eles não sabem o que fazem”. Às vezes concordo com a primeira parte da sentença, a parte do perdão, mas eu rejeito energicamente a segunda parte, que implica que devamos ser todos, ou a maioria de nós, perdoamos porque somos moralmente imbecis. Não somos. Sabemos o que significa a dor. Sabemos que é errado infringir a dor. Toda e cada vez que infligimos dor aos outros, sabemos o que estamos fazendo”. 

Lamentavelmente, o “cara”, razão do apreço do Presidente Obama é hoje, comprovadamente um imbecil sádico. Em que ponto da história do Lula se deu a transformação? 

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O POVO SABE O QUE QUER? 

Houve um dia em que o povo brasileiro foi para as ruas para pedir que os generais tomassem o governo das mãos do presidente. Conseguiu ser atendido. Depois, o povo voltou para as ruas para pedir que os generais deixassem que ele escolhesse os presidentes. Conseguiu ser atendido.

Então, o povo escolheu Collor, pois Lula era comunista. Depois, o povo quis se livrar do Collor. Conseguiu. Então, escolheu Fernando Henrique Cardoso, pois Lula continuava comunista. Depois, o povo entendeu que Lula não era mais comunista e o escolheu para ser o presidente. Veio Dilma, a comunista, por vontade do povo. O povo enjoou, então, dispensou a Dilma e votou no Bolsonaro. Depois, escolheu Lula, que voltou a ser comunista. Parte do povo voltou aos quartéis para pedir que os generais tirassem o presidente. Os generais entenderam que têm coisa melhor para fazer do que ficar atendendo ao povo que não sabe o que quer.

É o resumo da recente história política do Brasil. A pergunta é: o que virá depois? 

O povo sabe o que quer? Isso não importa, pois a vontade dele deve prevalecer sempre. 

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“NA CABEÇA DE PUTIN”. 

01.01.2024. 

Abri o novo ano encerrando a leitura do livro “Na cabeça de Putin”, escrito por Michel Eltchaninoff, doutor em filosofia e especialista na história do pensamento russo.  Eu li o livro com paciência e pesquisas e como se assistisse a uma série, capítulo após capítulo – são dez. Ao me dar o livro de presente, Denise Frossard abriu-me a oportunidade de tê-lo como a continuidade de outro livro, bom também, “Os sete chefes soviéticos”, este escrito por um general russo, Dmitri Volkogonov. Li “Os sete chefes” há bastante tempo. O general passeia pela vida e experiência de governo de Lênin, Stalin, Khrushchev, Brejnev, Andropov, Chernenko  e Gorbachev. Ele os define no prólogo: 

“Todos os sete chefes vieram das províncias. Nenhum deles emergiu de organizações do partido de Moscou ou de São Petersburgo. O provincialismo tende a ser conservador e ortodoxo. Nenhum deles era um proletário “puro” de origem, mesmo que todos reconhecessem e exaltassem o papel de ponta da classe operária. Mas, não foi a classe operária que governou, e sim uma “partidocracia” burocrática que rapidamente se formou. Os chefes sempre mantiveram grande distância dos trabalhadores, dos camponeses e da intelligentsia, exatamente por terem saído da profundeza do núcleo dos “partidocratas profissionais”. Afora o último deles,(Gorbachev) o nível intelectual, educacional e cultural dos chefes foi baixo. Mesmo Lênin, sem dúvida uma cabeça poderosa, em termos intelectuais foi estritamente unidimensional; cabeça puramente política, o que por certo muito o empobreceu como pessoa. Tinha pouco apreço pela cultura russa e por seus expoentes”. 

A leitura do livro presenteado pela Denise provocou-me o desejo de conhecer um pouco mais sobre Boris – ir além das notícias e dos fatos de fácil localização pelo Google –  uma vez que Putin chegou ao poder por ele e após a renúncia dele. Li, então, a biografia feita pelo putinista Vladimir Solovyov e pela jornalista Elena Klepikova. Vladimir é defensor da III Guerra Mundial, (evidentemente garantida a vitória da Rússia) é favorável à invasão plena da Ucrânia e à recuperação da União Soviética pela reconquista dos países, que se separaram. Boris, primeiro presidente eleito diretamente pelo povo russo, se deu mal e, antes de encerrar o segundo mandato, renunciou e entregou o poder a Putin, seu primeiro-ministro. 

Putin é mais letrado que seus colegas. É cínico. Conservador, religioso, leitor de Dostoiévski, de Kant e de Soljenitsin. Isso mesmo. Leitor e admirador do autor de O Arquipélago Gulag, que ao retornar do exílio foi recebido por Putin em casa. Relata Michel Eltchaninoff: “Apesar das reservas de Soljenítsin em relação a esse homem, um puro produto do regime soviético, da sua nomenklatura, da violência política do KGB, o escritor é partidário de um poder forte e de uma via específica para a Rússia. Não quer que a democracia russa se torne uma mera cópia do modelo ocidental. Preocupa-se com o “cerco” da Rússia pela NATO. Os dois homens discutem durante um bom par de horas. Soljenitsin prodigaliza-lhe os seus conselhos sobre como “reorganizar a nossa Rússia”. Putin diz-lhe que vai ter em conta os conselhos sobre a autogestão do poder local.”

Soljenítsin decepcionou-se. Continua Michel Eltchaninoff: “Dois anos depois, porém, Soljenítsin mostra-se amargo: “Dei-lhe bons conselhos, mas ele não seguiu nenhum”, lamenta ele numa entrevista concedida ao Moscow News no início de 2002(…). O que não impede Putin de elogiar e citar frequentemente o seu novo amigo. Concede-lhe um prêmio de Estado em junho de 2007, proclamando: “Milhões de pessoas por todo o mundo ligam o nome e a obra de Aleksandr Issaevich Soljenítsin ao destino da própria Rússia.”

Michel Eltchaninoff cita vários filósofos lidos por Putin e levanta a questão: “Será Putin um apaixonado pela filosofia?”. Ele mesmo responde: “Nem pensar! O presidente prefere a história, a literatura e acima de tudo o desporto. Não é um intelectual. Adora contar histórias sobre a sua juventude como trapaceiro e espião, mais do que evocar os seus estudos na Faculdade de Direito de São Petersburgo”. 

Mas, o que quer Putin, ao final das contas, segundo Eltchaninoff? Ele quer que a Rússia lidere uma União Euroasiática (Europa e Ásia). Volte a ter a dimensão que teve a União Soviética. “A Rússia é um país original, porque parte do seu território está na Ásia e uma parte significativa na Europa. Na base da cultura russa estão, antes de mais, os valores cristãos. Nesse aspecto, a Rússia é um país europeu. Mas vivem no país 15 milhões de muçulmanos, e grande parte do território situa-se na Ásia. Também temos, portanto, os nossos interesses na Ásia”, declara Putin. 

Putin quer um “mundo russo”, onde serão considerados cidadãos todos os indivíduos russos residentes fora do país, inclusive os descendentes dos russos. “A Rússia, claramente, deve cuidar dos russos que vivem noutros estados, mesmo que não tenham cidadania russa”, diz Putin. E diz mais, segundo Michel Eltchaninoff: “Putin enfatiza a importância de proteger o cidadão russo em todo o lado, no país e fora das fronteiras dele”. 

Em resumo: o livro é esclarecedor, pois mostra a face de Putin, um homem que tenta se utilizar da política para submeter o mundo todo à vontade dele. Michel Eltchaninoff encontrou espaço para citar as jovens componentes do Pussy Riot, um grupo de rock que tem contestado Putin. O resultado da contestação foi a prisão e perseguição. “A  21 de fevereiro de 2012, durante a campanha de Putin pela Presidência, o grupo apresentou-se na Catedral Cristo Salvador de Moscou: “Maria Mãe de Deus está conosco no protesto”. As componentes, encapuzadas, foram presas numa colônia penal da Mordóvia. 

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Os caçadores de ratos e de marajás. 

16.12.2023. 

O Senador Sérgio Moro rebolou para explicar as imagens do abraço efusivo que deu no colega Flávio, o Dino e a alegria com que fez isso. Ele não precisava explicar, pois “Inês é morta”. Os eleitores e admiradores dele já entenderam que ele é, e do que é capaz. 

Sérgio Moro tornou-se o símbolo do combate à corrupção, num momento em que isso teve algum significado para o povo brasileiro, assim como teve, no rol das profissões, a de caçador de ratos. Sim, houve um tempo em que eles faziam sucesso com as donas de casa. Atualmente, o povo brasileiro convive bem com os roedores, aceita que eles passem entre as suas pernas e até os visitam em seus esconderijos. Mas, no momento em que os ratos foram abominados e causavam asco, Sérgio Moro tornou-se um dos caçadores mais talentosos. 

O talento deu fama ao juiz e a fama antecedeu-lhe a vaidade. O cara ficou pimpão! Achou-se com autoridade para colocar o dedo na cara de qualquer um, fazer troça, sentenciar, prender e até torturar tendo os processos como meros detalhes. Ele ficou tão confiante que largou o ofício em busca de outro que lhe desse mais fama e mais prestígio. Foi ser ministro. 

Ele justificou o ato com uma cutucada no coração do povo, que a tudo estava disposto para combater os ratos. Afinal, aos olhos do povo, o juiz tinha duas qualidades essenciais para “emendar os latrocínios: o saber, para os apanhar, e o poder para os emendar”( Carta de um Anônimo a Dom Teodósio, príncipe de Portugal, exposta no livro A Arte de Furtar, obra que chegou às minhas mãos em 2005, com o prefácio de João Ubaldo, o imortal corajoso que em vida questionou-nos a todos: “Somos todos ladrões?”). Tanto o livro, como o artigo em separado merecem leitura. 

A soma de atitudes do juiz fez o povo sentir-se enganado. A empáfia do herói derreteu o enredo. O “caçador de ratos” tomou o rumo do “caçador de Marajás” na história. Tudo por vaidade. No fim das contas, os marajás continuam por aí e os ratos também. Uns e outros perderam o medo e partiram para cima dos seus caçadores.  

Flávio, o Dino, foi juiz; Sérgio Moro também. Flávio, o Dino, é senador. Sérgio Moro chegou lá. Sérgio Moro foi Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio, o Dino, o é. Sérgio Moro quis ser membro do Supremo Tribunal Federal. Não conseguiu. Flávio, o Dino, sentará na cadeira em fevereiro. Flávio, o Dino preservou quem poderia colocá-lo lá. Sérgio Moro ajudou a destruir quem poderia fazer o mesmo por ele. 

Já que estamos a falar sobre vaidades, busquemos a ajuda do Pregador, autor de Eclesiastes. Ele ensina: “Quando o tolo vai pelo caminho, falta-lhe o entendimento; e assim, a todos mostra que é estúpido…Quem abre uma cova nela cairá…”. (Eclesiastes 10). 

Vocês têm notícia do caçador de Marajás? E do caçador de ratos? Eu soube que estão ambos no Senado Federal. É fato ou é fake?